Uma publicação que questiona “a real necessidade de expor crianças aos riscos de imunizantes” contra a covid-19 com a afirmação de que a doença não as impacta circula desde 16 de dezembro de 2021 com mais de 7.000 interações.
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Campanha sobre AVC na França não tem a ver com vacinação de criançasAlegações sobre documentos que apontariam mortes pela vacina da Pfizer são imprecisasPublicações sobre miocardite em crianças e jovens após vacinação anticovid são enganosascoronavirusmundoÉ montagem a foto de emissora mostrando manequim 'internado' por COVIDO lendário azul da Prússia, cor que pode salvar ou tirar vidas“A imprensa só afirma que a Anvisa pode autorizar a vacinação de crianças hoje e não há doses, ou seja, o interesse é que o Estado COMPRE! Nenhum independente discute a real necessidade de expor crianças aos riscos de imunizantes, que previnem doença que não as impacta”, diz uma publicação no Twitter.
Na sequência, a usuária acrescenta: “Mesmo os adolescentes... ninguém destaca a ausência de mortes por COVID na Fundação Casa, apesar da existência de casos. Certas notícias simplesmente não interessam, por fazerem refletir sobre as grandes certezas!”.
Conteúdo semelhante também foi compartilhado no Facebook (1, 2, 3).
A publicação começou a circular algumas horas antes de a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizar a aplicação da vacina da Pfizer contra a covid-19 em crianças a partir de 5 anos. Naquele momento, especialistas destacaram que os benefícios da vacinação superam os riscos da doença que, sim, pode impactar as crianças.
Luiz Vicente Ribeiro, membro especialista da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), afirmou durante a transmissão do comunicado público da Anvisa:
“As repercussões para crianças nas faixas mais jovens são menores do que para adultos, são muito mais raros os casos graves. No entanto, apenas em 2021, o Ministério da Saúde reporta cerca de 1.400 óbitos de crianças abaixo de 18 anos, e nós sabemos dos riscos associados da síndrome inflamatória multissistêmica em crianças, que representa um problema de saúde bastante relevante, que acarretou um número considerável de óbitos em nosso país.”
A afirmação viralizada de que não estão ocorrendo mortes de adolescentes por covid-19 na Fundação Casa (Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente), localizada no estado de São Paulo, é verdadeira. O dado foi verificado pelo AFP Checamos nos relatórios da instituição disponíveis até 16 de dezembro de 2021.
Impactos da covid-19 em crianças
Autoridades sanitárias internacionais e especialistas informam que crianças costumam desenvolver quadros mais leves da covid-19 do que adultos. No entanto, pontuam que existem, sim, riscos.A Organização Mundial de Saúde (OMS) constatou em um comunicado de 24 de novembro de 2021 que, “no geral, há proporcionalmente menos infecções sintomáticas e casos com doença grave e mortes por covid-19 em crianças e adolescentes, em comparação com grupos de idade mais avançada”.
No documento, a organização citou dados coletados de 30 de dezembro de 2019 a 25 de outubro de 2021, como os de que crianças entre 5 e 14 anos “são responsáveis por 7%” dos casos globais relatados e 0,1% das mortes registradas. E destacou, ainda, que os óbitos nos grupos de idades inferiores a 25 anos representaram menos de 0,5% das mortes globais.
Apesar do risco baixo, a instituição afirmou que crianças e adolescentes podem apresentar sintomas prolongados e até mesmo sequelas agudas após a infecção, e que tais condições ainda estão sob investigação. Uma delas seria a síndrome inflamatória multissistêmica em crianças (SIM-C) que, “embora rara, teve sua ocorrência relatada em todo o mundo e complica a recuperação da covid-19”.
A Sociedade Argentina de Pediatria em comunicado publicado no último 8 de novembro também destacou que, “embora seja pouco frequente, essa doença pode manifestar-se em meninas, meninos e adolescentes como sintomas respiratórios moderados ou graves, bem como numa nova entidade denominada SIM-C” e que a doença pode deixar sequelas em até 15% das crianças e adolescentes infectados pelo SARS-CoV-2.
Na mesma linha, os Centros para o Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos informam que, observada a incidência de casos nesse país, “é possível que crianças desenvolvam quadros menos severos de covid-19 do que adultos”. No entanto, indicam que nessa faixa etária quadros graves podem se apresentar com os mesmos sintomas que nos adultos, como “insuficiência respiratória, miocardite, choque, insuficiência renal aguda, coagulopatia e insuficiência de múltiplos órgãos”.
Quanto ao risco de problemas cardíacos, Jorge Afiune, presidente do Departamento Científico de Cardiologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, afirmou ao Checamos em 6 de dezembro de 2021 que a miocardite causada pela covid-19 é ainda “mais grave” do que a miocardite “clássica”, que já é uma forma grave da doença.
Recomendação
As sociedades brasileiras de Cardiologia e de Pediatria incentivam a vacinação em seus sites (1, 2, 3).Afiune ressaltou na mesma oportunidade que %u23BC balanceando os riscos e benefícios da imunização contra a covid-19 %u23BC “a Sociedade Brasileira de Pediatria” não tem dúvida “em recomendar a vacinação para adolescentes e crianças”.
A Anvisa garantiu em 16 de setembro de 2021 que as vacinas utilizadas no Brasil são monitoradas por meio de notificações de suspeitas de eventos adversos e que “até o momento (...) os benefícios da vacinação excedem significativamente os seus potenciais riscos”. Dentre eles, a agência cita “eventos cardiovasculares”, como casos leves de miocardite e pericardite, os quais classifica como “muito raros”.
A OMS destaca que os benefícios em vacinar crianças e adolescentes “vão além dos benefícios diretos à saúde”. Dentre eles, a organização cita que a imunização pode diminuir a transmissão da doença nessa faixa etária e, consequentemente, “pode reduzir a transmissão de crianças e adolescentes para adultos mais velhos”. Ela também cita a possibilidade do relaxamento de medidas restritivas e interrupções de atividades em escolas. A organização pontua que até o momento “não há dados disponíveis” sobre o risco de trombose após a imunização nas faixas inferiores a 18 anos.
A Universidade Johns Hopkins encoraja a vacinação de crianças e destaca alguns dos seus benefícios em seu site. Dentre eles, a possibilidade de prevenção do contágio nas próprias crianças, a prevenção ou redução da disseminação do vírus, assim como a possibilidade de interromper o surgimento de novas variantes.
Além dos casos raros de miocardite, a universidade somente menciona os possíveis efeitos colaterais passageiros, que geralmente duram 48 horas, como dor no local da injeção, cansaço maior que o usual, dor de cabeça, músculos ou articulações doloridos, febre e até mesmo calafrios.
Os CDC dos Estados Unidos também recomendam a imunização em crianças: “Os benefícios da vacinação contra a covid-19 superam os riscos potenciais e conhecidos”, afirmam. E acrescentam que crianças de 5 anos ou mais devem ser vacinadas “o mais rápido possível”.
A imunização contra o SARS-CoV-2 em crianças no Brasil foi autorizada pela primeira vez em junho de 2021, quando a Anvisa liberou a aplicação da vacina da Pfizer em pessoas a partir de 12 anos.
A AFP já verificou outras alegações sobre os potenciais riscos das vacinas para crianças (1, 2).
Esta verificação foi realizada com base em informações científicas e oficiais sobre o novo coronavírus disponíveis na data desta publicação.
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