Um vídeo que mostra um edifício em chamas foi visualizado mais de 3 mil vezes nas redes sociais desde, pelo menos, 17 de dezembro de 2021 em publicações que mencionam que o incêndio ocorreu em um “armazém militar onde as vacinas foram armazenadas” na Itália. Mas essa descrição é enganosa. O incidente, de fato, ocorreu em 15 de dezembro de 2021 em um quartel em Roma, mas essas instalações não armazenam imunizantes desde os primeiros meses da campanha de vacinação no país, iniciada no final de 2020, conforme explicou à AFP um dos corpos de polícia na Itália.
“Itália: após a vacinação obrigatória para todas as forças de segurança ser aprovada, o armazém militar onde as vacinas foram armazenadas pega fogo magicamente”, dizem as publicações que circularam no Twitter (1, 2, 3) e no Facebook (1, 2, 3).
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Mais mortes por COVID nos EUA em 2021 não indicam ineficácia das vacinasMesmo quem se vacinou pode transmitir o vírus da COVID-19É falso que vacinas anticovid enfraqueçam sistema imunológicoEm 15 de dezembro de 2021, dia do incêndio, começou a valer no país a imunização obrigatória para os trabalhadores do setor de saúde e educação, e para os integrantes das forças policial, militar e penitenciária do país, mas a medida havia sido aprovada um mês antes, em 24 de novembro de 2021.
O incêndio
Na sequência viralizada é possível ver o símbolo do veículo digital italiano INews24, com o endereço para o site.Uma busca no Google pelas palavras-chave “inews 24 it” e “fuoco” (incêndio, em italiano) mostrou como resultado uma reportagem acompanhada de um vídeo no YouTube do mesmo veículo datado de 15 de dezembro de 2021 e intitulada “Roma: incêndio no quartel de Tor di Quinto”. A AFP não encontrou registros anteriores das imagens.
Na descrição do vídeo é explicado que a emergência ocorreu “no edifício do Regimento de Lazio no quartel dos Carabineros Salvo D'Acquisto, em Tor di Quinto”, um bairro de Roma.
Segundo o texto, não estava claro, até aquele momento, “se o incêndio havia se iniciado nos escritórios ou nos alojamentos” do edifício. Na reportagem não havia menção alguma ao armazenamento de vacinas contra a covid-19 no local do acidente.
Buscas no Google com as palavras-chave “fuoco + Salvo D'Acquisto + Tor Di Quinto + Roma” (incêndio + Salvo D'Acquisto +Tor Di Quinto + Roma, em português) trouxeram como resultado várias reportagens (1, 2, 3) de veículos locais sobre a emergência, igualmente sem referência ao armazenamento de imunizantes.
Salvo D'Acquisto é um quartel que abriga, além do Oitavo Regimento de Lazio (um dos 12 batalhões dos Carabineiros), o Centro Nacional de Seleção e Recrutamento dos Carabineiros, o Quarto Regimento da Cavalaria e várias unidades de investigação científica desse corpo policial.
A assessoria de imprensa do Comando Geral da Arma dos Carabineiros indicou à AFP em 23 de dezembro de 2021 que “o incêndio, que se iniciou por acidente, afetou o dormitório do 8º regimento”.
Sobre as afirmações viralizadas que circularam com o vídeo, a entidade informou: “Não existem vacinas no interior do quartel. Quando as primeiras doses chegaram no começo do ano , foram armazenadas no quartel para logo serem distribuídas em outros locais, mas agora não existe ‘estoque’ de vacinas dentro do quartel”.
A mídia local (1, 2) registrou que na noite de 25 de dezembro de 2020 chegaram as primeiras 9.750 doses da vacina Pfizer contra a covid-19 na Itália e foram armazenadas no quartel Salvo D'Acquisto para, então, serem enviadas aos pontos onde seriam aplicadas na população.
Vacinação obrigatória
Em 16 de setembro de 2021, o Conselho de Ministros da Itália impôs a apresentação de um passe sanitário para que os trabalhadores públicos e privados pudessem exercer suas atividades. Isso implicava ter recebido a primeira dose da vacina contra a covid-19, apresentar um teste PCR feito nas últimas 72 horas ou ter se recuperado da doença nos últimos 3 meses.Em 24 de novembro de 2021, foi decretada a vacinação obrigatória (com esquema de imunização completo e dose de reforço) para membros das forças de segurança, trabalhadores da área da saúde e do setor de educação. A medida começou a valer em 15 de dezembro de 2021.