Jornal Estado de Minas

CHECAMOS

Lula deixou, sim, flores no memorial do Holocausto em Israel durante visita


 

Um vídeo compartilhado mais de 50 mil vezes desde 2018 nas redes sociais voltou a circular em janeiro de 2022 com a alegação de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva supostamente teria se recusado a deixar flores no Museu do Holocausto ao visitar o país enquanto ainda presidia o Brasil. Mas isso é falso. Na única viagem oficial que enquanto mandatário fez a Israel, em 2010, Lula deixou, sim, flores no memorial.





“Saiba porquê Lula não é bem-vindo a Israel” e “Lula se tornou ‘persona non grata’ para o povo judeu”, diz a legenda de uma gravação compartilhada no Facebook (1, 2, 3), e que também circula no Instagram (1, 2) e no Twitter (1, 2). 

O vídeo contém a fala de um suposto guia turístico, que afirma: “Quando Lula veio aqui a Israel, em uma visita oficial, levaram ele para o Museu de Holocausto. E ele recusou botar flores nesse monumento”

Conteúdo semelhante, com a mesma filmagem, circula desde 2018 (1, 2).

Uma busca pelas viagens internacionais realizadas por Lula durante seu primeiro e segundo mandatos mostra que, de acordo com dados registrados na Biblioteca da Presidência da República, o ex-mandatário visitou Israel oficialmente somente em uma ocasião, em 2010.



Nessa viagem, Lula visitou o Museu do Holocausto (Yad Vashem) em 16 de março daquele ano.

Uma busca nos arquivos da AFP por essa viagem mostrou registros fotográficos (1, 2) do momento em que o então presidente brasileiro colocou flores em homenagem às vítimas no local.

Luiz Inácio Lula da Silva coloca uma coroa de flores no Museu do Holocausto em Jerusalém, em 16 de março de 2010 ( AFP / Gali Tibbon) (foto: reprodução)
Luiz Inácio Lula da Silva rende homenagem no Museu do Holocausto em Jerusalém, em 16 de março de 2010 ( AFP / Gali Tibbon) (foto: reprodução)

 

 

O momento em que Lula deposita as flores também foi registrado em vídeo pela TV Brasil, como mostrou uma busca no Google pelos termos “lula yad vashem”:

Uma busca pelo nome “Lula” no site do governo de Israel não trouxe nenhum resultado que informasse que o ex-presidente foi considerado “persona non grata” (pessoa indesejada ou que não é bem-vinda, em tradução livre), como indicam algumas das publicações viralizadas (1, 2, 3).

Uma pesquisa no Google pelas palavras-chave “Lula”, “persona non grata” e “Israel” tampouco trouxe como resultado notícias que indicassem que o ex-mandatário havia sido denominado dessa forma pelo governo israelense. 



O Checamos entrou em contato com a Embaixada de Israel em Brasília sobre esse assunto, mas não obteve retorno até a publicação desta verificação.

O Itamaraty explica que esse termo representa um instrumento jurídico utilizado nas relações internacionais, que diz respeito à “prerrogativa que os Estados possuem para indicar que um representante oficial estrangeiro não é mais bem-vindo como tal em seu território”.

Contexto


Como reportado pela AFP à época, para a visita de Lula, a chancelaria israelense também havia programado uma visita ao túmulo de Theodor Herzl, fundador do movimento sionista que deu origem a Israel. A visita, porém, não ocorreu.

No dia seguinte à visita ao Museu do Holocausto, Lula visitou o túmulo do líder palestino Yasser Arafat em Ramallah, como mencionado na gravação viralizada.



Segundo a imprensa local (1, 2), houve descontentamento por parte do então ministro israelense das Relações Exteriores, Avigdor Lieberman, pelo fato de Lula não ter visitado a tumba de Herzl.

Checagem semelhante foi feita pelo Aos Fatos e pelo Estadão Verifica.