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Estado de Minas CHECAMOS

Lula discutia articulação de frente ampla em 2020 quando falou em enganar o povo mais uma vez

Imagens em vídeo estão sendo compartilhadas em redes sociais novamente


15/02/2022 22:34 - atualizado 21/02/2022 10:16

O vídeo de uma entrevista em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirma que não iria “enganar o povo mais uma vez” voltou a circular em janeiro e fevereiro de 2022, com mais de 60 mil visualizações.

Mas o registro circula fora de contexto. Na entrevista completa, concedida em outubro de 2020, é possível ver que Lula falava sobre a possibilidade da criação de uma frente ampla contra o atual presidente Jair Bolsonaro, afirmando que isso só faria sentido se fosse para “devolver os direitos ao povo trabalhador” e que, caso contrário, ele não iria “enganar o povo”.

“Nem acredito #OLadraoArregou  ficamos livre do Pinóquio”, diz uma das publicações compartilhadas no Twitter (1, 2, 3), acompanhada pelo trecho do vídeo viralizado. Mensagens similares circulam no Facebook (1, 2, 3) e no TikTok (1, 2).

O conteúdo circula desde 2020 e já havia sido verificado anteriormente pelo Checamos.
Captura de tela feita em 15 de fevereiro de 2022 de uma publicação no Twitter
Captura de tela feita em 15 de fevereiro de 2022 de uma publicação no Twitter ( . / )

Em algumas publicações, no trecho compartilhado nas redes, com aproximadamente 9 segundos de duração, lê-se as seguintes palavras em duas tarjas na parte inferior da tela: “entrevista o ex-presidente Lula” e “forças políticas em movimento na América Latina”.

Uma busca por esses termos no Google mostra que a fala foi retirada de uma entrevista concedida pelo ex-mandatário ao jornal El País em 7 de outubro de 2020. No vídeo publicado pelo periódico espanhol no YouTube, o trecho compartilhado nas redes ocorre após 1 hora, seis minutos e 30 segundos do início da entrevista.

No entanto, as publicações viralizadas omitem o contexto da declaração do ex-presidente. 

A sequência completa permite identificar que o trecho foi proferido após a jornalista Flávia Marreiro mencionar a experiência de Lula com líderes de diferentes países e perguntar: “Quando [você] fala na hora de fazer uma frente contra o Bolsonaro, essas asperezas não estão conseguindo ser retiradas na negociação. O que precisa para esse Lula diplomático voltar e conseguir fazer uma frente ampla contra o Bolsonaro, como em outros países foi possível fazer contra o que é considerado uma ameaça autoritária? Não está na hora de virar a página de algumas coisas?”.

A isso, Lula respondeu que o termo “frente ampla” havia ganhado uma conotação de solução “mágica” e que, para ele, só faria sentido tomar essa atitude se fosse para recuperar os direitos trabalhistas, fazer uma reforma tributária com o objetivo de aumentar os impostos para os mais ricos e “voltar a dar cidadania ao povo que é excluído desde o tempo da escravidão”.

Finalmente, o ex-presidente afirmou: “Mas fazer um arranjo por cima, apenas para mudar a nomenclatura, sem dizer o que vai acontecer com o povo pobre... eu já tenho idade demais, eu já vivi demais, eu já tenho experiência demais. E eu não vou enganar o povo mais uma vez. Eu não vou enganar o povo. Só tem sentido fazer uma frente ampla se for para devolver ao povo trabalhador deste país os direitos que tiraram dele”.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Geneva Press Club, em Genebra, Suíça, em 6 de março de 2020
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Geneva Press Club, em Genebra, Suíça, em 6 de março de 2020 (foto: ( AFP / Fabrice Coffrini))

Em sua conta no Twitter, também em 7 de outubro de 2020 o ex-presidente retomou parte dessa fala, reforçando que “tem idade demais” para “fazer arranjo por cima sem dizer o que vai acontecer com o povo pobre”, e que só faria isso para devolver os direitos aos trabalhadores.

Antes, em 1º de junho de 2020, durante uma reunião extraordinária do Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), Lula já havia criticado os manifestos suprapartidários em oposição ao presidente Bolsonaro, indicando que pouco se falava da classe trabalhadora, e que não tinha mais idade para ser ‘Maria vai com as outras’”


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