Dias após o assassinato da vereadora Marielle Franco completar quatro anos, em 14 de março de 2022, a foto de um casal voltou a circular nas redes sociais como se mostrasse a ativista dos direitos humanos sentada no colo do traficante Marcinho VP.
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Não há registro de que Chris Rock tenha publicado um pedido de desculpas viral após o OscarÉ uma montagem a capa da revista Veja dizendo que Bolsonaro tem “zero” chance de ser reeleitoFotografia viral não mostra Anitta e Pabllo Vittar no Lollapalooza, mas outras cantoras em 2020“A heroína da Rede Globo Marielle Franco; antes de ser lésbica, sempre teve envolvimentos amorosos com os chefões do tráfico; e vários traficantes em geral, 9 ajudaram a financiar sua campanha para vereadora”, afirmam usuários no Twitter, Facebook e Instagram, compartilhando uma captura de tela que mostra a foto de uma mulher sentada no colo de um homem e a legenda “Vereadora Marielle e Marcinho VP”.
O texto continua: “Isso a Globo não mostra, na foto no colo do chefão do tráfico Marcinho VP está sentada a vereadora e heroína da GLOBO, Marielle Franco”.
Uma busca reversa pela foto viralizada mostra que ela é compartilhada com essa alegação desde 2018, após a vereadora Marielle Franco, identificada com a defesa das mulheres, da população negra e LGBT, ser assassinada com quatro tiros na cabeça no Centro do Rio de Janeiro após sair de um debate, na noite de 14 de março daquele ano.
Em uma das postagens publicadas naquele ano, a foto está com mais qualidade.
Uma comparação entre essa imagem mais nítida e uma foto de Marielle publicada em sua conta no Instagram permite concluir que a mulher vista no registro viralizado não é a vereadora, como demonstrado abaixo:
O homem que aparece na imagem tampouco se parece com um dos dois traficantes conhecidos como Marcinho VP.
O apelido era usado por Márcio Amaro de Oliveira, traficante que atuava na favela Santa Marta, no Rio de Janeiro. Oliveira ficou conhecido em 1996 quando deu autorização para que o cineasta norte-americano Spike Lee gravasse um clipe de Michael Jackson na comunidade. Preso em 2000, ele foi assassinado dentro da cadeia em 2003.
A outra pessoa conhecida como Marcinho VP é Márcio Nepomuceno, ex-comandante do tráfico no Complexo do Alemão, também no Rio de Janeiro. Nepomuceno foi detido em 1996 e “continua preso”, afirmou a assessoria da Seção de Execução Penal de Catanduvas ao Checamos em 31 de março de 2022. “O tempo de pena do condenado é de 54 anos, 10 meses e 20 dias”, concluiu o órgão.
Abaixo, uma comparação entre o homem que aparece na imagem viralizada, no centro, e fotos de Márcio Amaro de Oliveira e Márcio Nepomuceno publicadas na mídia.
Em 2018, o site E-farsas localizou a origem da foto compartilhada com informações falsas: uma publicação, já deletada, feita em 13 de agosto de 2005 no portal Fotolog. Nessa data, Márcio Amaro de Oliveira já havia sido assassinado e Márcio Nepomuceno já estava preso.
Nesta versão arquivada da publicação, é possível ler a legenda original: “Essa foto aee foi a uns 4 anos atras la no cabaré de jaqueline em pau dos ferros ‘quem nunca foi lá hein’ kkkkkkkkkkk ohh cabaré gigante e eterno nesse dia viu espero q gostem”.
Além de a legenda não fazer qualquer referência a Marielle ou a um dos dois Marcinhos VP, o município de Pau dos Ferros fica no Rio Grande do Norte, enquanto a vereadora e os dois traficantes são do Rio de Janeiro.
Casada com Marcinho VP?
As publicações afirmam que Marielle “sempre teve envolvimentos amorosos com chefões do tráfico” e alegam que, na foto viralizada, ela estaria sentada no colo de Marcinho VP, sem especificar qual deles.
Em 2018, quando informações falsas sobre a vereadora começaram a ser compartilhadas, sua família negou a alegação.
“MARIELLE NÃO ERA BANDIDA, MUITO MENOS DEFENDIA BANDIDOS, MARIELLE NUNCA FOI CASADA OU ENVOLVIDA COM MARCINHO VP”, escreveu no Facebook sua irmã, Anielle Franco, em 18 de março de 2018.
Apesar da ampla difusão de alegações falsas sobre a vereadora em 2018, uma análise da FGV-DAPP apontou que a reação às mensagens contrárias a ela superou os próprios boatos.
Após quatro anos e cinco delegados responsáveis pelo caso, a investigação sobre o assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, que estava com a vereadora, segue sem solução.