Uma foto de presos próximos a duas faixas penduradas em um prédio, uma delas com a frase “Alexandre de Moraes no STF”, voltou a circular nas redes sociais em 2022 com centenas de compartilhamentos. Segundo as publicações, o registro foi feito durante o chamado “salve geral” do Primeiro Comando da Capital (PCC) em 2006. Mas a imagem foi alterada, pois a mensagem original era “Contra a opressão”.
“Pra quem acha que tudo é fake news, relembrar é viver. Ocorreu no ‘salve geral do PCC em 2006. Seria cômico se não fosse trágico” é a mensagem que acompanha a fotografia no Facebook (1, 2), Instagram (1, 2) e Twitter (1, 2).
Esse mesmo conteúdo já havia circulado em 2020 e 2021.
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Suposto tuíte de Elon Musk sobre motociata foi publicado em perfil satíricoVídeo em que Lula e Globo são xingados por público da Sapucaí é adulteradoInternautas viralizam dados errados do PIB 'com PT' e 'com Bolsonaro'As postagens voltaram a circular no contexto da condenação pelo STF do deputado federal pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB-RJ) Daniel Silveira a oito anos e nove meses de prisão pelos “crimes de ameaça ao Estado Democrático de Direito e coação no curso do processo”.
O relator do processo é o ministro Alexandre de Moraes, alvo da desinformação.
Imagem adulterada
Uma busca reversa no Google Imagens pela fotografia levou a uma matéria publicada no site El País Brasil em março de 2014 sobre o PCC. Na imagem há o crédito ao fotógrafo Alex Silva, do Estadão, e a seguinte legenda: “Presos durante rebelião de maio de 2006”.
Na foto, observa-se que a frase contida na faixa da direita, que menciona o ministro Alexandre de Moraes nas publicações viralizadas, sofreu alterações, já que originalmente dizia “Contra a opressão”.
Buscando as palavras “PCC + Alex Silva + Estadão”, o AFP Checamos encontrou uma matéria especial publicada pelo Estadão em 2016, marcando os 10 anos dos ataques do PCC. Em um dos textos deste conjunto está, junto a outros registros, uma foto de Alex Silva da mesma cena.
Além desta, o jornal O Estado de S. Paulo colocou em sua capa de 15 de maio de 2006 uma outra imagem da ação dos presos.
Em maio de 2020, em contato por e-mail com o Estadão Conteúdo, que enviou ao Checamos as informações da foto, foi possível confirmar a data e o local da imagem viralizada: 14 de maio de 2006, na penitenciária de Junqueirópolis, em São Paulo.
Segundo a legenda da foto, “os guardas da muralha dispararam para evitar uma possível fuga dos rebelados. O motim começou às 7 horas de hoje, quando familiares entravam para a visita. Os rebelados subiram no telhado e prenderam faixas na caixa d´água”.
Anteriormente, o ministro Alexandre de Moraes havia autorizado diligências no âmbito do inquérito 4.781 para investigar notícias fraudulentas “que atingem a honorabilidade e a segurança do Supremo Tribunal Federal e de seus membros”.
Moraes tomou posse do cargo em 22 de março de 2017, mais de 10 anos depois dos ataques do PCC, após a nomeação do então presidente Michel Temer. De 2005 a 2007 - período que coincide com os ataques em São Paulo registrados na fotografia -, o agora ministro do STF ocupou a vaga de jurista da 1ª composição do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
A onda de ataques iniciada em maio de 2006, popularmente conhecida como “salve geral”, teve como estopim a decisão da Secretaria de Administração Penitenciária de transferir centenas de presos, entre eles, Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, considerado o líder do PCC.
Presos de 29 penitenciárias e Centros de Detenção Provisória se rebelaram, incluindo os detentos da penitenciária de Junqueirópolis, onde foi feito o registro de Alex Silva. As ações paralisaram São Paulo e houve algumas retaliações que deixaram civis mortos.