Jornal Estado de Minas

CHECAMOS

Publicações enganam ao atribuir 7 mil mortes na Europa à vacina da Pfizer

Publicações compartilhadas centenas de vezes desde 2 de maio de 2022 nas redes sociais repercutem um artigo de um site austríaco onde é citado que, até o final de janeiro de 2022, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) registrou 7.000 casos fatais relacionados à vacina da Pfizer na Europa.



Mas essa alegação é enganosa: o número se refere a suspeitas de reações adversas reportadas na base de dados de farmacovigilância EudraVigilance, que não necessariamente têm relação causal com os imunizantes.

A EMA explicou à AFP que essas notificações são uma ferramenta para detectar possíveis riscos relacionados ao uso de uma vacina, mas que 'somente uma avaliação detalhada e científica' de todos os dados disponíveis permite uma conclusão robusta a respeito de riscos e benefícios de um fármaco.

'Segundo o artigo, até o final de janeiro de 2022, só da vacina da Pfizer, o EMA registrou 7000 casos fatais na Europa', dizem os usuários que compartilham o conteúdo no Twitter e no Facebook (1, 2, 3).




Assim como afirmado pelas publicações, a vacinação contra covid-19 é obrigatória para trabalhadores da saúde na Itália. Além disso, um decreto-lei foi aprovado em 5 de janeiro de 2022 no país tornando obrigatório que todos os maiores de 50 anos estivessem vacinados a partir de 15 de fevereiro.

As mensagens são acompanhadas por um artigo do portal austríaco Wochenblick, que já teve outras alegações checadas pela AFP (1, 2, 3).

O texto menciona uma decisão do Conselho Administrativo de Justiça para a Região da Sicília, na Itália, sobre o caso de um estudante que alega que foi impedido de seguir seus estudos na Universidade de Palermo por não estar vacinado contra a covid-19. No ponto 18.4 da decisão, é citado que, a partir da base de dados europeia EudraVigilance é possível detectar, até o final de janeiro de 2022, 582.074 notificações de eventos adversos relacionadas à vacina contra covid-19 Comirnaty, da Pfizer, das quais 7.023 tiveram um desfecho fatal.



No entanto, não é possível afirmar, a partir desses dados, que o imunizante citado causou 7.000 mortes.

Relação causal não confirmada


A EMA, agência reguladora da União Europeia, publica regularmente atualizações sobre a segurança dos imunizantes aprovados no bloco europeu.

No relatório de 17 de fevereiro de 2022, a agência cita que, até o dia 30 de janeiro de 2022 e após a aplicação de cerca de 570 milhões de doses da vacina na Europa, foram registrados na plataforma de farmacovigilância EudraVigilance 582.074 casos de efeitos adversos suspeitos, dos quais 7.023 tiveram um desfecho fatal - como citado no artigo compartilhado nas redes.

No entanto, antes de fornecer as cifras, o relatório explica que profissionais de saúde e indivíduos vacinados são encorajados a reportar todas as suspeitas de efeitos colaterais que possam ter sido experimentadas após a aplicação da vacina, 'mesmo se não estiver claro se a vacina foi a causa'.



A EudraVigilance é um sistema para a notificação dessas suspeitas de efeitos secundários que é desenvolvido e mantido pela EMA, como explicado no site da plataforma.

As notificações de suspeitas de reações adversas contidas no sistema podem ser acessadas publicamente. No entanto, antes de realizar a consulta, é exibido um aviso explicando que a informação contida no site 'não reflete qualquer confirmação de uma ligação potencial entre o medicamento e o(s) efeito(s) observado(s)' e que o número de suspeitas de efeitos colaterais contido na plataforma não deve ser usado como base para determinar a probabilidade de um efeito adverso ocorrer.

Além disso, a informação a respeito do número de mortes reportadas como tendo ocorrido após a vacinação só pode ser consultada nos relatórios de atualização de segurança elaborados pela EMA, e não diretamente na EudraVigilance.



Interpretação dos dados na plataforma


Em 2 de maio de 2022, uma porta-voz da assessoria de imprensa da EMA afirmou à AFP que a agência tem observado 'muitas interpretações incorretas' das suspeitas de eventos adversos relacionadas às vacinas contra covid-19 causadas, sobretudo, por uma má compreensão das informações disponíveis na EudraVigilance.

'A informação contida neste site tem relação com suspeitas de efeitos secundários, ou seja, eventos médicos que foram observados após o uso de um remédio, mas que não necessariamente estão relacionados ou foram causados pelo medicamento', reforçou a agência reguladora à AFP. A assessora da EMA adicionou:

'Informação sobre suspeitas de efeitos secundários não devem ser interpretadas como se o fármaco ou a substância ativa fossem inseguros para serem utilizados. Somente uma avaliação detalhada e científica de todos os dados disponíveis permite que sejam elaboradas conclusões robustas a respeito dos benefícios e riscos de um fármaco'

Nesse sentido, a porta-voz da EMA explicou à AFP que notificações de suspeitas de eventos adversos por si só raramente são suficientes para provar que uma certa reação foi causada por um fármaco específico, como as vacinas contra covid-19.

Para a avaliação de risco feita pela agência, são levadas em consideração também informações disponíveis na literatura médica, em ensaios clínicos, estudos observacionais, dentre outros.



'Para a maioria dos medicamentos e vacinas, a vasta maioria das suspeitas de eventos adversos não são eventualmente confirmadas como efeitos secundários de fato. Para os casos com um desfecho fatal, é difícil afirmar com certeza a real causa da morte mesmo se todas as informações, incluindo resultados de autópsias, estiverem disponíveis. Observe que não é papel da EMA julgar a causa da morte', acrescentou a instituição.

O Checamos já verificou uma alegação semelhante sobre a base de dados europeia e sua relação com as vacinas contra a covid-19.

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