Um vídeo no qual um homem questiona um pesquisador do instituto Datafolha por não permitir que ele veja as perguntas que estava respondendo voltou a circular nas redes sociais no final de maio de 2022.
O pesquisador, na verdade, estava seguindo a metodologia do instituto, que não permite que os entrevistados leiam as perguntas antes para 'evitar estímulos não previstos quando da elaboração da pesquisa'.
'DataFolha faz pesquisa mas não deixa ver suas resposta vergonhoso não poder ver às perguntas e ver suas respostas então quem responde oque bem entender é-o DataFolha', diz uma das publicações compartilhadas no Facebook.
O homem que grava o vídeo, também postado no Instagram e Twitter, denuncia: 'Foi anulada agora a pesquisa Datafolha porque foi negada a informação de eu ler as perguntas. Eu não pude ler as perguntas num momento que era com critério da Folha. O Datafolha aqui não deixou eu ler as perguntas. Aí como é que eu posso dar credibilidade a uma pesquisa onde eu não posso ler as perguntas?'.
As postagens foram compartilhadas após a pesquisa Datafolha divulgada no último dia 26 de maio mostrar que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ampliou a sua vantagem em relação ao atual mandatário Jair Bolsonaro (PL) para o pleito de 2022, no qual Bolsonaro tenta a reeleição.
A gravação viralizada, contudo, não tem relação com esse último levantamento, já que circula desde 2018.
Diferentemente do que indica o homem no vídeo viralizado, o procedimento de não permitir a leitura prévia das perguntas é padrão 'em qualquer tipo de pesquisa sobre qualquer assunto', apontou a assessoria da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep) ao Checamos em 2 de junho de 2022. E completou:
'As empresas de pesquisa, quando aplicam um questionário, precisam contar com a espontaneidade do respondente, por isso estes não podem ver as perguntas, para evitar qualquer tipo de viés'.
No mesmo sentido, a diretora do Datafolha, Luciana Chong, informou que a metodologia do instituto impede que os entrevistados leiam as perguntas antes 'para evitar estímulos não previstos quando da elaboração da pesquisa'. E acrescentou: 'Entrevistados têm acesso apenas a instrumentos como cartões de renda ou de candidatos, nunca ao questionário aplicado através de tablet'.
Contudo, o questionário pode ser acessado não somente por quem participou da pesquisa, mas por toda a população. Segundo a resolução 23.600 do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que dispõe sobre pesquisas eleitorais, institutos devem divulgar, entre outras informações, o 'questionário completo aplicado ou a ser aplicado' em um levantamento.
Além disso, no site do Datafolha, na 14ª pergunta, é explicado que 'o questionário é o principal instrumento das pesquisas e a ordem das perguntas pode influenciar as respostas dos entrevistados'.
Chong detalha que o questionário tem uma ordem a ser seguida, e que perguntas posteriores poderiam interferir em respostas prévias. Por isso, ela ressalta que há um padrão a ser respeitado: 'A pergunta tem que ser feita pelo entrevistador na forma que está escrita no tablet, todos os pesquisadores têm que seguir a mesma regra'.