Um vídeo em que um agente abre a peça de um automóvel e retira barras de ouro foi reproduzido mais de 22 mil vezes desde 17 de junho de 2022 com a alegação de que se trata de uma apreensão feita pelo Exército relacionada a 'ONGs que operam na Amazônia brasileira'. Contudo, a cena não foi gravada durante uma operação do Exército, mas do Comando de Operações de Divisas (COD) da Polícia Militar de Goiás. Segundo a instituição, o ouro encontrado era 'proveniente de garimpos e explorações ilegais'.
'Vai vendo, 'ONGS' na Amazônia Brasileira, estavam mandando 'muitos motores' para serem retificados fora do Brasil, daí vai o Exército ver o porque, e veja o que os soldados acharam dentro dos motores', diz a legenda que acompanha o vídeo compartilhado no Facebook, no Twitter e no YouTube.
As imagens já haviam circulado em fevereiro com alegações semelhantes.
As matérias citavam o Comando de Operações de Divisas (COD) da Polícia Militar de Goiás como o responsável pela operação que resultou na prisão de dois indivíduos.
Uma busca no perfil da divisão no Instagram levou a uma publicação que continha o mesmo vídeo viralizado junto com outras imagens das barras de ouro. Na legenda, uma nota informava que se tratava de uma operação realizada na madrugada daquele mesmo 18 de fevereiro que apreendeu 19 barras de ouro, encontradas em uma caixa de câmbio.
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Uma publicação compartilhada por Comando Operações de Divisas (@cod.goias)
O texto não fez qualquer menção a ONGs da Amazônia, indicando como origem do material apreendido, na verdade, "garimpos e explorações ilegais".
O comunicado com imagens da operação também foi divulgado na época no site do COD e enviado ao Checamos.
A instituição ainda confirmou à AFP que o vídeo compartilhado nas redes sociais é vinculado à operação da PM de Goiás, e não ao Exército, e enviou o vídeo completo para comparação.
Em fevereiro, quando as imagens começaram a viralizar, o subcomandante do COD confirmou ao Checamos que o ouro teria sido extraído de garimpos ilegais, localizados no Pará e no Mato Grosso. E acrescentou:
'A priori não tem relação nenhuma com organizações não governamentais'.
A operação teve ainda suporte do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), no âmbito da Operação Hórus, apoiada pela Secretaria de Operações Integradas (Seopi) do pasta, de acordo com nota publicada em 23 de fevereiro de 2022.
O Exército, apontado por usuários como a instituição responsável pela operação, também respondeu aos questionamentos do Checamos sobre uma possível participação na ação. Em 24 de fevereiro de 2022, seu centro de comunicação social informou: 'O Exército Brasileiro não teve participação em operações recentes com apreensão de ouro na Amazônia'.
A investigação foi encaminhada à Polícia Federal de Goiás, que não respondeu aos questionamentos do Checamos até a publicação desta verificação.
Essa alegação também foi checada pelo Estadão Verifica e Aos Fatos.