A viúva de Ernesto Che Guevara não recebe aposentadoria no Brasil. A suposta notícia de que a esposa de um dos líderes da Revolução Cubana recebe uma 'aposentadoria por viuvez', compartilhada centenas de vezes nas redes sociais desde 2014, voltou a circular no contexto eleitoral de 2022.
Procurado pela AFP, o INSS nega a existência dessa pensão.
'Durma-se com um barulho desse: Viúva do Che Guevara recebe do Brasil, aposentadoria por viuvez já há 10 anos', diz uma das publicações compartilhadas no Facebook, Twitter e em sites (1, 2).
O conteúdo, que circula desde 2014, foi encaminhado para o WhatsApp do AFP Checamos em agosto de 2022.
O texto que circula nas redes afirma que a aposentadoria por viuvez de 'Aleida March, que atualmente vive em Cuba foi denunciada pela blogueira [cubana] Yoani Sánchez'. Entretanto, uma busca no Google pelo nome das duas mulheres não leva a qualquer notícia veiculada na imprensa sobre a suposta denúncia.
Uma nova pesquisa por 'Aleida March' no arquivo de fotos da AFP indicou que a mulher que aparece na imagem viral não se trata da viúva de Che Guevara, mas, sim de sua filha, que tem o mesmo nome da mãe.
No Brasil sequer existe a 'aposentadoria por viuvez', mencionada pelas publicações. O que existe é a pensão por morte, rural ou urbana, paga pelo INSS somente para dependentes de contribuintes mortos ou declarados mortos pela justiça.
Entretanto, nem a esposa de Che Guevara nem sua filha poderiam receber essa pensão, já que o argentino, morto na Bolívia em outubro de 1967, não contribuiu com o sistema previdenciário brasileiro por nunca ter vivido no Brasil.
Além disso, o valor que consta na suposta notícia é superior ao teto estabelecido pelo INSS para as aposentadorias, que desde 20 de janeiro de 2022 é de R$ 7.087,22.
Procurado pela AFP, o INSS afirmou que a alegação de que a viúva de Che Guevara recebe aposentadoria por morte é falsa e esclareceu que 'para receber pensão acima do teto, só em caso de demanda judicial'.
Esse conteúdo foi checado, desde 2014, por Boatos.org, E-farsas, Aos Fatos, Lupa e Estadão Verifica. Alguns desses veículos verificaram que a imagem viral foi retirada do site satírico A Conversa, já extinto.
Há outros conteúdos desse site arquivados na plataforma Wayback Machine, evidenciando seu tom satírico.