Jornal Estado de Minas

CHECAMOS

Vídeo de presos comemorando não tem relação com votos para Lula


 

Uma sequência que mostra detentos supostamente cantando um jingle do ex-presidente Lula teve seu áudio adulterado. O vídeo foi compartilhado mais de 5,9 mil vezes nas redes sociais desde 3 de outubro de 2022 com a alegação de que se trata da comemoração de eleitores de Lula no presídio após os resultados do primeiro turno das eleições de 2022. Mas a gravação é de julho de 2016 e no áudio original não há qualquer menção ao candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) à Presidência.





'E assim que vejo os eleitores do lula, olha como está nos presídios, a culpa é de vocês que o defendem, depois não venha pedir clemência', diz a legenda do vídeo compartilhado no Facebook, Instagram, Kwai e TikTok.

No vídeo é possível ver diversos presos pulando enquanto parecem cantar 'olê, olê, olê, olá, Lula, Lula', jingle comumente ouvido em manifestações a favor do ex-presidente.

Mas a versão original da sequência é de julho de 2016, e não de 2 de outubro de 2022, dia em que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) divulgou o resultado do primeiro turno das eleições, que indicou que a corrida ao Palácio do Planalto será decidida entre Lula e o presidente Jair Bolsonaro em um segundo turno, que acontecerá em 30 de outubro.

O vídeo original

Em algumas das gravações que circulam com melhor definição é possível identificar o que está escrito em uma camisa levantada por um dos detentos: 'massa potiguar', fazendo referência aos habitantes do Rio Grande do Norte.



Em algumas das gravações que circulam com melhor definição é possível identificar o que está escrito em uma camisa levantada por um dos detentos: 'massa potiguar', fazendo referência aos habitantes do Rio Grande do Norte. A partir disso, por meio de uma pesquisa no Google, o Checamos localizou a mesma sequência, com mais tempo de duração, publicada em 30 de julho de 2016 em um blog do estado nordestino.

De acordo com o texto, as imagens mostram presos comemorando uma onda de ataques realizada na época no Rio Grande do Norte.

Essa informação também foi publicada pelo jornal local Tribuna do Norte, segundo o qual o vídeo mostra presidiários comemorando ações violentas em Natal, capital do estado, no pavilhão 4 da penitenciária de Alcaçuz.

Fotos internas do presídio publicadas por meios de comunicação possibilitam identificar um cenário muito semelhante ao da gravação.



No vídeo publicado na imprensa identifica-se que os detentos estão gritando 'uh, é a massa' e 'é a massa potiguar', e não o jingle relacionado ao ex-presidente Lula.

Essa mesma gravação já havia viralizado por duas vezes anteriormente, e foi verificada (1, 2) pelo Checamos, relacionada à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) contra a prisão em segunda instância e a anulação por parte do ministro Edson Fachin das sentenças da 13ª Vara Federal de Curitiba em ações envolvendo o ex-mandatário.

Na data, procurada pela AFP, a Secretaria de Estado da Administração Penitenciária do Rio Grande do Norte confirmou que as imagens foram gravadas em 2016 na penitenciária de Alcaçuz, no município de Nísia Floresta.

Em julho de 2016, o Rio Grande do Norte viveu uma onda de ataques, associada pelo governo a uma retaliação à instalação de bloqueadores de sinal de celular em presídios da região. A Força Aérea Brasileira (FAB), inclusive, enviou tropas ao estado para ajudar na segurança.