Jornal Estado de Minas

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Não é verdade que a totalização dos votos seguiu um algoritmo a favor de Lula nas eleições de 2022

A totalização dos votos no primeiro turno das eleições gerais de 2022 não seguiu um algoritmo que desviou votos para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e tirou do atual mandatário Jair Bolsonaro (PL).



A mensagem, compartilhada centenas de vezes desde 2 de outubro, alega que, a cada 12% das urnas apuradas, Lula ganhava 1% dos votos válidos e Bolsonaro perdia 0,5%, indicando fraude.

Mas isso é falso: os números listados na mensagem não coincidem com as porcentagens atingidas pelos candidatos. Especialistas ouvidos pela AFP também destacaram que uma fraude como essa seria facilmente percebida.

'Algoritmo das urnas descoberto: A cada 12% de apuração Se lula sobe 1% e JB desce 0,5%: 12% - JB 48% L 42%', começa uma das publicações compartilhadas no Facebook, que termina citando que, com 96% das urnas apuradas, Jair Bolsonaro tinha 44,5% dos votos válidos e Lula, 49%.

O conteúdo também circulou no Twitter e no TikTok.

Porém, as porcentagens listadas ao final da mensagem não coincidem com o resultado que foi, de fato, apurado pelas urnas.



No último dia 4 de outubro, com 100% das seções eleitorais apuradas, o ex-presidente Lula não chegou aos 49% dos votos citados no texto viral, tendo conquistado 48,43% dos votos válidos. O mandatário Jair Bolsonaro tampouco atingiu os 44,5% mencionados, tendo concluído a votação com 43,20%.

Além disso, a mensagem viralizada indica que, com 60% das urnas apuradas, os dois candidatos teriam atingido o empate com 46% dos votos cada um. Em seguida, é dito que o ex-presidente Lula teria ultrapassado Bolsonaro quando 72% das urnas estavam apuradas, tendo atingido 47% dos votos contra 45,5% de Bolsonaro.

Entretanto, a ferramenta Wayback Machine, que salva versões arquivadas de sites, mostra que Lula ultrapassou Bolsonaro com 70% das urnas apuradas, e não com 72%, como indica o texto compartilhado nas redes. Além disso, no momento em que o candidato do PT assumiu a liderança, ele não tinha 47% dos votos válidos, e sim 45,74%.



Dalson Figueiredo, professor de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco especializado em métodos quantitativos, afirmou à AFP que mesmo se a totalização dos votos tivesse seguido esse parâmetro, isso não seria um indício de anomalia ou fraude: 'Juntos, Lula (48,43%) e Bolsonaro (43,20%) concentram quase 92% dos votos. Assim, é natural que, quando um aumenta, o outro tende a cair'.

Outros dois especialistas ouvidos pela AFP também ressaltaram que, caso realmente tivesse ocorrido uma fraude de acordo com esse 'algoritmo', ela seria facilmente identificada.

Lucas Lago, pesquisador no CEST-USP e desenvolvedor no Projeto7c0, indicou que o texto viral confunde os conceitos de apuração e totalização.

'A apuração acontece dentro das urnas no encerramento da votação da seção eleitoral. Os resultados são gravados em mídia digital na urna e em uma cópia física (os boletins de urna). O que o TSE divulga é a totalização dos BUs. O resultado da eleição já está definido, só é desconhecido até o final da totalização', explicou.



Dessa forma, uma fraude como essa seria facilmente identificada já que as cópias físicas dos boletins de urna não coincidiriam com o resultado divulgado pelo TSE.

'Caso isto fosse realizado por algum programa de totalização do TSE, poderia ser verificado e identificado por qualquer entidade que participasse do processo de Teste Público de Segurança realizado junto ao TSE', ressaltou também Avelino Zorzo, doutor em Ciência da Computação e professor da PUC-RS.

O professor também questionou por que alguém realizaria uma fraude em favor de um candidato e pararia com 49% dos votos, sendo que, para vencer a eleição em primeiro turno, são necessários 50% dos votos válidos mais um.