O termo 'CPX', inscrito em um boné usado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), faz referência a complexos de favelas, como o do Alemão, não a facções criminosas, como sugerem publicações.
As mensagens foram compartilhadas milhares de vezes nas redes após a ida de Lula ao local, em 12 de outubro de 2022, onde participou de um ato de campanha para o segundo turno das eleições.
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Sigilos de cem anos não são estabelecidos por decreto, mas por lei, e podem ser revogadosLula não ameaçou Zema durante discurso em Minas; vídeo foi adulteradoSão falsos os dados da lista de cidades em que 'até os mortos' teriam votado em Lula'Mais uma coincidência de simpatia pelo tráfico de drogas?' e 'Gíria utilizada pelo crime 'CPX = Cupinxa "Parceiro de crime'. CPX = Complexo no Rio Abreviação utilizada pela facção', dizem publicações que acompanham imagens de Lula usando o boné com a sigla 'CPX' no Twitter, Facebook e Telegram. O conteúdo também chegou ao WhatsApp do AFP Checamos, para onde os usuários podem enviar conteúdos vistos em redes sociais, se duvidarem de sua veracidade.
A alegação foi compartilhada por diversos políticos ligados ao governo de Jair Bolsonaro (PL), como seu filho e senador Flávio Bolsonaro, o deputado federal e ex-ministro Osmar Terra, o ex-Secretário da Cultura Mário Frias, e a deputada federal Carla Zambelli.
Mas a sigla inscrita no boné usado por Lula faz referência a complexos de favelas, como o do Alemão, no Rio de Janeiro, onde ele participou de um evento de campanha em 12 de outubro de 2022.
Antes de seguir para a caminhada no local, o ex-presidente participou de uma conversa com lideranças comunitárias. Uma consulta à íntegra da transmissão mostra o momento em que ele recebe o objeto de Camila Moradia, uma das organizadoras do evento. Ela falou à AFP sobre a motivação por trás do presente:
'CPX significa Complexo, e a ideia do evento era a das favelas com o Lula. Várias favelas utilizam esse termo 'Complexo': Complexo da Maré, Complexo da Penha, e o próprio Complexo do Alemão. Para a gente, seria simbólico e representaria de fato as favelas'.
Moradia disse que a ideia surgiu em uma reunião para a organização do evento, quando um amigo sugeriu presentear o ex-presidente: 'Aí conseguimos o boné, e eu entreguei a ele porque era um combinado nosso. Pode ver no vídeo que, quando entrego o boné, muitas pessoas gritam 'agora é Complexo, agora é Complexo''.
Ela comparou o boné com outros presentes típicos entregues a Lula em seus atos de campanha pelo Brasil: 'O Lula vai para o Nordeste e usa um chapéu que é típico de lá. Para onde ele vai, ele ganha um presente e utiliza. Nós entregamos na ideia de que nas favelas todo mundo gosta de usar boné, que iria nos representar'.
A terminologia também é usada por órgãos oficiais, como a Polícia Militar do Rio de Janeiro, que afirmou à AFP em 13 de outubro de 2022: 'O termo 'CPX' era utilizado no Twitter da corporação como forma de abreviação da palavra 'Complexo' até o ano de 2017, quando só eram permitidas publicações com até 140 caracteres'.
Bom dia.@PMERJ está em operação no Cpx Chapadão e na Cidade de Deus. #PMERJTrabalhoSerio#ServireProteger
— @pmerj (@PMERJ) December 4, 2016
O governo do Rio também já utilizou a sigla, como por exemplo neste documento em que faz referência ao Complexo da Maré.
Uma nota publicada no site oficial de Lula sobre a tentativa de vincular o boné a facções criminosas afirma: 'CPX significa complexo. Para bolsonaristas, todos que moram em comunidades são bandidos'.
Moradia também repudiou os comentários, que reforçam estigmas sobre moradores de favelas e periferias: 'Estão acostumados a nos olhar sempre pela mira de um fuzil. Infelizmente para eles, só prestamos quando estamos os servindo. Quando voltamos para o nosso lar, para a nossa favela, somos criminalizados'.
O jornal Voz das Comunidades, que cobre favelas do Rio de Janeiro e foi criado no Complexo do Alemão, publicou uma matéria chamando a alegação de 'completamente falsa'. Em um movimento coletivo, a página e outras lideranças acrescentaram 'CPX' ao nome de usuário no Twitter no dia após o evento.
O conteúdo também foi verificado pela Agência Lupa, Fato ou Fake e Estadão Verifica.