Uma sequência que mostraria uma 'intervenção federal' no Rio de Janeiro não foi gravada em 2 de dezembro de 2022.
Publicações, compartilhadas mais de 5 mil vezes desde essa data, garantem que as imagens exibem as Forças Armadas 'contrariando' o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e realizando uma intervenção após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2022.
Mas a gravação é de uma reportagem exibida pela emissora Record em 2018, quando as forças de segurança do estado estavam sob intervenção federal.
'Rio de Janeiro 02/Dez/2022 Intervenção Federal Forças Armadas Contrariando STF, TSE', lê-se no vídeo que circula no Facebook e no Kwai.
O vídeo de dois minutos de duração começa mostrando policiais fardados com uma narração ao fundo: 'Nós flagramos a guerra no morro e o socorro aos feridos que chegavam em um hospital cercado pelos militares. Já os moradores registraram da janela de caso o dia de guerra'. Há, também, o logotipo da emissora Record no canto inferior direito da tela.
A filmagem prossegue mostrando tanques de guerra e descreve uma operação militar realizada nos complexos de comunidades da Maré, do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro. Segundo a narração, 36 pessoas foram presas e outras cinco, consideradas suspeitas, morreram.
O vídeo termina dizendo que dois militares do Exército também morreram em confronto e que estes teriam sido 'os primeiros militares mortos durante a intervenção federal'.
Não há, porém, qualquer menção ao STF, TSE ou ao resultado das eleições de 2022, diferentemente do que sugerem as publicações.
Uma busca pela palavra-chave no Google 'Record' junto à frase 'nós flagramos a guerra no morro', que é dita no início do trecho viralizado, trouxe como resultado um vídeo publicado em 21 de agosto de 2018 no canal oficial no YouTube do programa Balanço Geral, da emissora Record, com o título: 'Equipe da Record TV flagra dia de "guerra" no Rio de Janeiro'.
Em 20 de agosto de 2018, as Forças Armadas, com o apoio da Polícia Militar, deflagraram uma megaoperação contra alvos do crime organizado nos complexos do Alemão, da Penha e da Maré ao longo de pelo menos cinco dias. A ação levou à prisão de 86 pessoas e deixou oito mortos, incluindo três militares do Exército (1, 2).
A operação ocorreu no contexto da intervenção federal no Rio de Janeiro, estabelecida por meio de um decreto assinado pelo então presidente Michel Temer (MDB) em 16 de fevereiro de 2018. Com a medida, as Forças Armadas assumiram o controle de todas as operações de segurança no estado.
O estopim para a intervenção federal no Rio foram as cenas de violência do carnaval daquele ano. Após cerca de dez meses, a intervenção foi oficialmente encerrada, em 27 de dezembro de 2018.
O AFP Checamos já verificou outras alegações a respeito de uma suposta intervenção militar das Forças Armadas após a vitória de Lula nas eleições de 2022 (1, 2).