Vídeos em que brasileiros protestam em Nova York, nos Estados Unidos, não foram feitos durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao país em fevereiro de 2023, como sugerem publicações compartilhadas mais de seis mil vezes nas redes sociais desde o último dia 10.
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Vídeo que mostra eleitora arrependida é de 2020 e não está relacionado ao governo LulaEste vídeo não mostra uma perseguição a ovnis em 2023; é uma homenagem a Orson Welles em 2009"Lei de proteção doméstica" debatida no Senado não proíbe cultos nem prevê "prisão religiosa"'O incompetente nomeado pelo STF sendo recebido nos EUA... Tu não é o pai dos pobres Lula? Vá lá encarar o povão', diz o texto sobreposto à sequência compartilhada no Facebook e no Twitter.
O conteúdo passou a circular em meio à visita do chefe de Estado brasileiro aos Estados Unidos, à convite do presidente norte-americano, Joe Biden, para a sua primeira passagem pelo país após voltar à Presidência da República.
As publicações viralizadas são compostas por três gravações. Na primeira, o presidente Lula sai de um carro acompanhado por seguranças e pela primeira-dama, Janja da Silva. Vê-se ao fundo Ricardo Stuckert, fotógrafo oficial do mandatário, registrando o momento. Na gravação, ouve-se pessoas chamando por ele e gritando 'presidente'.
No segundo vídeo, um grupo de pessoas empunhando celulares grita, no que parece ser a porta de um prédio: 'filho da puta', 'seu vagabundo, ladrão' e 'vai se foder'. A pessoa que estaria sendo hostilizada não aparece na gravação.
Já no terceiro, pessoas com roupas que remetem à bandeira do Brasil e segurando cartazes em verde e amarelo entoam: 'Lula, ladrão, seu lugar é na prisão'. 'É assim que a gente vai receber esse vagabundo', diz uma voz ao fundo.
Mas, apenas a primeira destas gravações foi feita durante a viagem de Lula aos Estados Unidos em fevereiro de 2023.
Montagem com gravações de 2022
Uma busca por palavras-chave mostra que o primeiro vídeo da sequência retrata, de fato, Lula chegando, em 9 de fevereiro de 2023, a Blair House, residência oficial da Presidência dos Estados Unidos, ocupada atualmente por Biden. Um registro do mesmo momento foi feito por uma jornalista do portal Poder360.
Já o vídeo exibido na sequência mostra, na verdade, o ex-presidente Michel Temer sendo hostilizado, em novembro de 2022, em Nova York.
Uma busca reversa por fragmentos da gravação levou a uma sequência muito semelhante publicada pela imprensa na época. O vídeo mostra o mesmo cenário — a porta de entrada de um prédio — e os mesmos xingamentos, mas a partir de outro ângulo, demonstrando que os gritos eram direcionados a Temer, que passava pelo grupo de pessoas naquele momento.
A cena também foi registrada em outros vídeos compartilhados nas redes em novembro de 2022, como esse, publicado no Twitter.
Em novembro de 2022, Temer estava em Nova York para participar, junto com alguns ministros do Supremo Tribunal Federal, da Conferência LIDE, que reuniu empresários na cidade norte-americana.
Esse também é o verdadeiro contexto da última sequência que compõe o vídeo viralizado nas redes. Na gravação, é possível ver pessoas segurando um cartaz com as palavras 'Supreme Court ignores', em referência à Corte brasileira, e a fachada do Sofitel Hotel, onde os ministros e o ex-presidente ficaram hospedados na época.
Um cartaz com esses mesmos dizeres aparece em diferentes reportagens (1, 2) sobre como um grupo de manifestantes hostilizou os ministros do STF em Nova York em novembro de 2022, justamente em frente a esse hotel.
Conteúdo semelhante foi verificado pelo Aos Fatos.