Jornal Estado de Minas

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Ativista em foto com Moraes não é homem que sentou na cadeira do ministro em Brasília

O homem visto sentado em uma cadeira do Supremo Tribunal Federal (STF) durante a invasão à Praça dos Três Poderes, em janeiro de 2023, não é o mesmo que aparece ao lado do ministro Alexandre de Moraes em uma fotografia.



Vídeos que somam mais de 150 mil visualizações nas redes sociais desde janeiro sugerem que o ativista e empreendedor social Raull Santiago teria sido responsável por se apossar de objetos do ministro do STF.

Mas a Polícia Federal identificou e prendeu Fábio Oliveira pela participação nos ataques.
'Vejam esse BANDIDO com boné CPX que se sentou numa cadeira do STF no dia 8/1 confraternizando-se com Xandão, o Ladrão e a Janja. Preciso desenhar?', dizem publicações no Twitter, no Facebook, no TikTok, no Instagram e no Helo, que associam imagens de Raull Santiago ao vídeo de um homem com o artefato do STF, que viralizou durante a invasão em Brasília.

Em um vídeo no Kwai com cerca de 5 mil compartilhamentos, viral também em outras redes, uma mulher questiona as supostas coincidências ao relacionar as imagens: 'Deixa eu te fazer uma pergunta muito sincera: você acredita em coincidências? Ou você é daqueles, parecido comigo, que acha que coincidências não existem? (...) Vamos lá para verdades e fatos agora: olha as imagens aqui ao lado. Você vai ver aquele moço que pegou a cadeira do Xandão', narra, enquanto se vê a imagem do homem sentado na poltrona.



Ela segue com a sua teoria: 'Aí vai investigar, abrir o baú, e lá no fundo do baú tem recordações. E nas recordações, nas fotos, ele está ao lado de quem? Olha aí. Ao lado de mais quem? Olha aí. E tem outra pessoa que está ao lado dele nas fotos, do túnel do tempo', enquanto aparecem fotos de Raull Santiago com o ministro Alexandre de Moraes, com Lula e com a primeira-dama Janja.

Raull Santiago e outras lideranças comunitárias do Complexo do Alemão têm sido alvos frequentes de campanhas de desinformação e de discurso de ódio, com tentativas de associação ao tráfico de drogas.

Dessa vez, imagens do ativista e empreendedor social circulam associadas ao homem que sentou em uma cadeira do STF na invasão à sede dos Três Poderes em 8 de janeiro, o que também é falso. As publicações repetem a narrativa de que as invasões de Brasília teriam sido planejadas por 'infiltrados da esquerda'.



Identificação e prisão


A imprensa noticiou em 17 de março de 2023 que o homem que participou da invasão e xingou Moraes ao se apossar de sua poltrona é Fábio Alexandre de Oliveira (1, 2).

Ele foi preso durante a oitava fase da Operação Lesa Pátria, que investiga pessoas que 'participaram, financiaram, omitiram-se ou fomentaram' os ataques, divulgou a Polícia Federal em nota sobre a nova etapa.

O órgão cumpriu 46 mandados de busca e apreensão e 32 mandados de prisão preventiva nos seguintes estados: Bahia, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Paraná, Rondônia, Rio Grande do Sul, São Paulo e Distrito Federal.



E acrescentou: 'Os fatos investigados constituem, em tese, os crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa, incitação ao crime, destruição e deterioração ou inutilização de bem especialmente protegido'.

Ativista e empreendedor social


Raull Santiago integra diversas iniciativas sociais, entre elas o Coletivo Papo Reto, que trabalha comunicação, direitos humanos, educação e cidadania para a garantia de direitos no Complexo do Alemão, e a Agência Brecha, hub de inteligência de favela.

Algumas publicações falsas incluem um vídeo do ativista e empreendedor social com Janja em que ele diz: 'Alô Complexo do Alemão, alô Brasil! Olha quem está aqui, olha quem eu encontrei na COP . Pega a visão'.



Na conferência, em novembro de 2022, ele participou de um painel sobre justiça climática.

Outras fotos que aparecem em postagens foram publicadas pelo próprio ativista no âmbito de sua ida à posse de Lula em Brasília (1, 2).

Quando sua imagem foi amplamente compartilhada em janeiro de 2023 com a alegação falsa de que seria um 'chefão do PCC ', Raull comentou à AFP sobre o racismo atrelado às campanhas de desinformação: 'A maldade das postagens fakes não doem apenas pelo ataque direto à nossa imagem, mas principalmente por sabermos que isso vem carregado de racismo e preconceito direto às favelas'.



Essa alegação também foi verificada pela Lupa e pelo Aos Fatos.

Referências: