Jornal Estado de Minas

CHECAMOS

Dinheiro encontrado em armário é de secretário de Saúde?

O dinheiro apreendido por policiais dentro de um armário, exibido em vídeo que circula nas redes, não pertencia ao secretário de Saúde do Pará, Rômulo Rodovalho.

As imagens, compartilhadas centenas de vezes desde 27 de março de 2023, foram feitas, na verdade, durante a Operação Monte Cristo, em outubro de 2020, em São Paulo. Segundo autoridades, o montante foi encontrado na casa do sócio de uma das redes de farmácia investigadas na operação. Os nomes de Rodovalho ou do anterior secretário de Saúde do Pará não constam no quadro societário de nenhuma destas empresas, como verificou a AFP.



'Polícia Federal encontra $$$ de repasse para a Pandemia na casa do secretário da saúde do governador do Pará Hélder Barbalho. Imaginem a parte do governador. E ainda se acharam no direito de criticar JB.', diz uma das publicações compartilhadas no Facebook, no Twitter e no TikTok.

O conteúdo também foi encaminhado ao WhatsApp do AFP Checamos, para onde os usuários podem enviar alegações vistas em redes sociais, se duvidarem de sua veracidade.

Na gravação, um policial exibe um gaveteiro repleto de malotes de dinheiro. Usuários afirmam que a quantia teria sido apreendida na casa do secretário de Saúde do Pará, mas sem especificar o nome.

No entanto, uma busca reversa por capturas de tela da sequência usando a ferramenta InVid-WeVerify* indicou outro contexto: o mesmo vídeo foi publicado junto a uma reportagem no site da TV Cultura em 1º de outubro de 2020.



Segundo a reportagem, o dinheiro foi apreendido em Santana de Parnaíba, em São Paulo, durante a Operação Monte Cristo, que investigava um suposto esquema de sonegação e lavagem de dinheiro por distribuidoras de medicamentos em São Paulo, Goiás e Minas Gerais. Nada é dito no texto sobre o secretário de Saúde do Pará.

A fase da operação citada foi deflagrada pela Secretaria de Estado da Fazenda e Planejamento de São Paulo e a Procuradoria Geral do Estado em outubro de 2020. Fotos da ação divulgadas pelos órgãos mostram o mesmo armário repleto de dinheiro visto no vídeo viral, confirmando que a apreensão fez parte desta operação.

À época, as autoridades não divulgaram o nome do dono dos valores mas informaram, em coletiva de imprensa, que o dinheiro foi apreendido na casa do sócio de uma das empresas do ramo farmacêutico investigadas na operação.



Essas empresas eram, segundo divulgado à imprensa (1, 2, 3) na época: as distribuidoras Medicamental, Navarro, Dismed, TFarma, Divamed e as redes varejistas Bifarma e Campeã. O atual e o anterior secretários de Saúde do Pará não aparecem no quadro societário dessas empresas.

Os secretários


As postagens citam a 'casa do secretário da saúde do governador do Pará', sem especificar se trata-se do atual, Romulo Rodovalho, ou do anterior Alberto Beltrame.

Beltrame se licenciou do cargo após ser alvo da Operação Para Bellum, deflagrada pela Polícia Federal em 10 de junho de 2020, que investigava fraudes nas compras de respiradores durante a pandemia de covid-19.



Por meio de uma consulta utilizando o CruzaGrafos, ferramenta de cruzamento de dados da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), foi possível constatar que nenhum dos dois secretários consta nos quadros societários das empresas investigadas na Operação Monte Cristo.

Os nomes dos verdadeiros sócios dessas empresas podem ser vistos nas imagens abaixo.
Combinação feita em 6 de abril de 2023 de capturas de tela do site CruzaGrafos ( .)
Combinação feita em 6 de abril de 2023 de capturas de tela do site CruzaGrafos ( .)

 

 

O Checamos entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, mas não obteve retorno até a publicação desta checagem.

Em mensagem enviada em 6 de abril de 2023 ao AFP Checamos, a Secretaria de Saúde do Pará reiterou que a alegação de que o dinheiro apreendido pertence ao secretário é uma 'fake news'.

Operação Monte Cristo


Em 2017 e 2020, a Secretaria Estadual da Fazenda de São Paulo deflagrou duas fases da Operação Monte Cristo com o objetivo de combater fraudes fiscais e sonegação de impostos no setor farmacêutico.



As ações fraudulentas envolviam grupos empresariais responsáveis pela distribuição de medicamentos no estado de São Paulo e redes varejistas que se beneficiavam da corrupção.

O AFP Checamos não localizou registros que indicassem o envolvimento de membros governamentais nesses esquemas.

A Bifarma e a Dismed, duas das empresas investigadas na Operação, se pronunciaram, à época, sobre o suposto envolvimento em esquemas ilícitos.

*Uma vez instalada a extensão InVid-WeVerify no navegador Chrome, clica-se com o botão direito sobre a imagem e o menu que aparece oferece a possibilidade de pesquisa da mesma em vários buscadores.

Referências