Jornal Estado de Minas

CHECAMOS

Vídeo que mostra operação de fiscais do Ibama é de 2020, e não 'após o Lula se eleger'

Uma gravação de 2020 em que agentes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) pedem que um homem recolha seus pertences e deixe um local circula nas redes sociais como se fosse de 2023 desde 14 de abril.



Segundo as publicações, compartilhadas mais de 49 mil vezes, os fiscais do Ibama estariam 'ameaçando um produtor rural após o Lula se eleger'. Mas a sequência é anterior ao atual governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O órgão também alega que o homem no vídeo já havia sido advertido anteriormente sobre a ordem de desocupação.

'Ibama ameaça produtor rural. O terror no Brasil após o Lula s eleger está acontecendo', diz uma mensagem incluída no vídeo compartilhado no Facebook, no Instagram, no Twitter, no TikTok e no Kwai.

O vídeo mostra fiscais ordenando a um homem que reúna seus pertences pessoais e deixe o local. 'Meu nome é Ibama. Para você, é Ibama', diz um dos homens uniformizados em determinado momento do registro.



'Isso aqui ainda se deus quiser, o nosso presidente vai revogar isso aqui. Vamos sair agora, daqui uns dias volta. Eu creio no Bolsonaro', diz o homem abordado pelos agentes no vídeo.

Jair Bolsonaro foi presidente do Brasil entre 2019 e 2022. Já Luiz Inácio Lula da Silva iniciou seu terceiro mandato como chefe do Executivo em 1º de janeiro de 2023.

'Se for revisado depois, é outra coisa. Mas por enquanto a lei diz isso, e aí o senhor já tá orientado ta. Então a gente espera a compreensão do senhor, do senhor retirar as crianças daqui, demos prazo para o senhor fazer isso', responde um dos fiscais do órgão ambiental.

Inicialmente, uma busca reversa por fragmentos do vídeo não trouxe resultados compatíveis. O AFP Checamos, então, questionou o Ibama sobre a gravação.

Em resposta, o órgão afirmou em 18 de abril por email que a abordagem gravada foi realizada por agentes ambientais durante 'retirada de invasores na Terra Indígena (TI) Cachoeira Seca', em 2020.



Uma nova pesquisa, dessa vez no Facebook e filtrando os resultados para publicações feitas em 2020, levou a um trecho do mesmo vídeo publicado pelo atual deputado federal José Medeiros (PL - MT). 'Ibama toca terror contra agricultores em Uruara', dizia uma mensagem no vídeo publicado pelo parlamentar.

Uruará, no Pará, é um dos municípios no qual está localizada a Terra Indígena Cachoeira Seca.

O vídeo compartilhado pelo deputado também foi publicado no YouTube na mesma data:

Ainda na resposta enviada ao AFP Checamos, o Ibama detalhou que o homem visto no vídeo já havia sido advertido anteriormente sobre a ordem de desocupação, mas teria desobedecido a equipe de fiscalização.

'A operação foi realizada durante a emergência de saúde provocada pela pandemia de covid-19. Ao desencorajar a permanência de invasores na TI, os agentes também buscavam proteger os indígenas do contato com o vírus', acrescentou o órgão.



Na época, o Ibama realizava uma operação, iniciada em abril daquele ano, para combater o desmatamento, garimpos e invasão em Terras Indígenas, incluindo a de Cachoeira Seca.

A prefeitura da cidade de Uruará chegou a mover uma ação que pedia a paralisação da operação do Ibama contra os crimes ambientais na região. Em resposta, o MPF se manifestou afirmando que a operação do órgão ambiental era legal. A Advocacia Geral da União (AGU) também assegurou na Justiça a continuidade da operação.

Este conteúdo também foi verificado por Aos Fatos.

Referências