Em fevereiro de 2023, foi noticiado que linhas de nove programas de crédito agropecuário do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) foram suspensas por conta do rápido esgotamento de recursos. Nas redes sociais, desde 28 de maio de 2023, usuários passaram a compartilhar um vídeo com essa notícia, alegando que o governo federal estaria se 'vingando' do agronegócio. Mas o Estado continuou financiando negócios do campo, como é possível conferir nos dados disponibilizados pelo banco.
'A vingança está tomando uma forma triste', lê-se em um vídeo com milhares de compartilhamentos no Instagram, no Facebook, no Kwai e no TikTok.
O vídeo também foi encaminhado ao WhatsApp do AFP Checamos, para onde os usuários podem enviar conteúdos vistos em redes sociais, se duvidarem de sua veracidade.
A sequência mostra imagens de maquinários agrícolas acompanhadas por um áudio de duas mulheres comentando a notícia de que o BNDES suspendeu linhas de crédito para o agronegócio. 'E aí, Cris, quer dizer que tem dinheiro pra ditadura, mas não tem pro agronegócio', diz uma delas.
Contudo, ao contrário do que as publicações dão a entender, o BNDES não parou de financiar o agronegócio.Por meio de uma busca por palavras-chave ouvidas no áudio viral, o AFP Checamos localizou uma publicação no TikTok, de maio, e outra no Kwai, de fevereiro, que mostram a imagem das apresentadoras. Nos vídeos, é possível ver que as mulheres são a apresentadora da Revista Oeste Paula Leal e a comentarista Cristina Graeml.
O AFP Checamos, então, encontrou o trecho em questão no canal da Revista Oeste no YouTube, publicado em 14 de fevereiro de 2023, e a transmissão original na plataforma Rumble, com data de 9 de fevereiro de 2023.
No vídeo, elas comentam uma notícia do Valor Econômico, com data de 6 de fevereiro de 2023, que diz que o BNDES suspendeu linhas de nove programas de crédito agropecuário.
A paralisação aconteceu logo depois de o BNDES comunicar, em 26 de janeiro de 2023, a liberação de R$ 2,9 bilhões para reabrir 12 programas de crédito agropecuário que estavam suspensos desde o segundo semestre de 2022, por conta da falta de recursos.
Segundo o Valor, houve uma procura 'intensa' por crédito e 'o saldo disponibilizado para algumas linhas durou menos de duas horas no sistema', resultando na suspensão dos seguintes protocolos:
- Programa Crédito Agropecuário Empresarial de Custeio;
- Faixa I do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf Investimento);
- Pronaf Matrizes e Reprodutores;
- Pronaf Tratores e Colheitadeiras;
- Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp);
- Linhas do Programa para a Adaptação à Mudança do Clima e Baixa Emissão de Carbono na Agropecuária (Programa ABC+);
- Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA);
- Programa de Financiamento à Agricultura Irrigada e ao Cultivo Protegido (Proirriga);
- Programa de Capitalização de Cooperativas Agropecuárias (Procap-Agro Giro).
Depois da repercussão, o governo federal e o BNDES explicaram, em nota, que a medida não significava um encerramento dos programas e que a suspensão só ocorreu porque 'a procura por crédito foi muito acima do volume disponível no momento, fator que ocasionou o rápido consumo dos recursos pelo setor'.
A suspensão das linhas também não representa uma paralisação no financiamento de negócios agropecuários.
De acordo com a planilha do Plano Agrícola e Pecuário de 2022/2023, disponibilizada pelo BNDES, os investimentos continuaram nos meses seguintes por meio de programas como BNDES Crédito Rural, Pronaf B, Pronaf Faixa 2, ABC Ambiental, entre outros.
Em abril, o BNDES e o Ministério da Agricultura e Pecuária anunciaram a liberação de R$ 2 bilhões para uma nova linha de crédito rural em dólar. Em maio, o banco divulgou que iria disponibilizar mais R$ 2 bilhões para atender à demanda pelo financiamento rural em dólar.