O Ministério da Saúde não proibiu a aplicação de vacinas contra a covid-19 e tampouco emitiu um comunicado alertando sobre o 'perigo' dos imunizantes, como alegam publicações compartilhadas milhares de vezes nas redes sociais desde 31 de maio de 2023. A pasta apenas alterou a indicação de aplicação da AstraZeneca para pessoas a partir de 40 anos. A mudança ocorreu após evidências científicas relacionarem o imunizante a casos raros de trombose. Mas o ministério não deixou de recomendar que as pessoas se vacinem — pelo contrário, a entidade reforça a segurança e eficácia das vacinas.
'Agora proibiram as vacinas da COVID por causa dos riscos a saúde. .. e quem tomou??? Kkk - VIVA o Socialismo Genocida !!!', diz a legenda de uma publicação compartilhada no Facebook, no TikTok e no Kwai.
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O vídeo foi publicado originalmente em 13 de abril de 2023 no canal de Alexandre Garcia no YouTube sob o título 'Lula não sabe por que dólar é moeda-padrão'. O trecho compartilhado nas redes sociais pode ser visto a partir de 12 minutos e 17 segundos da gravação.
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Uma busca por palavras-chave mostra que, no mesmo dia 13 de abril, o Ministério da Saúde divulgou uma nota garantindo a segurança e a eficácia da AstraZeneca, e destacando que ela foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
A pasta sempre defendeu o uso dos imunizantes contra o coronavírus. Em abril de 2021, o Ministério da Saúde publicou uma nota técnica sobre possíveis casos de Síndrome de Trombose e Trombocitopenia (STT) associados à vacina.
Em dezembro de 2022, considerando raros casos da doença no exterior, o Ministério da Saúde alterou a recomendação da AstraZeneca, produzida pela Fiocruz, e da Janssen, passando a indicá-las para pessoas a partir dos 40 anos.
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De acordo com o documento, a incidência de ocorrência da STT é bastante variável entre os diferentes países, com estimativas entre 0,2 até 3,8 casos por 100 mil doses aplicadas.
'Devido à raridade das ocorrências, ainda não foi possível identificar fatores de risco associados à síndrome a exceção de um aparente aumento do risco em indivíduos com idade abaixo de 40 anos de idade', diz o texto.
A Anvisa aprovou os imunizantes produzidos pela Pfizer, Butantan, Janssen e Fiocruz/AstraZeneca e concedeu autorização para exportação excepcional do imunizante da Sputnik.
Em nota publicada em 13 de abril de 2023, a agência indica:
'Nenhuma das vacinas contra a covid-19 aprovadas pela Anvisa foi proibida ou desautorizada. Ao contrário: com o surgimento de novas variantes, com a evolução tecnológica e com o avanço do conhecimento sobre a covid-19, é perfeitamente normal que algumas das vacinas da primeira geração aplicadas anteriormente sejam substituídas por outros imunizantes, como acontece com outras vacinas atualizadas regularmente.'
Fiocruz não parou de produzir vacinas
Em 14 de abril de 2023, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), responsável pela produção do imunizante da AstraZeneca no país, emitiu uma nota explicando que a fabricação da vacina não foi paralisada e ressaltando sua segurança e eficácia. 'Possíveis efeitos adversos graves, como a síndrome de trombose com trombocitopenia, são extremamente raros', afirmou.
De acordo com o boletim epidemiológico publicado pelo Ministério da Saúde, de 18 de janeiro de 2021 a 18 de junho de 2022 foram registrados 16 óbitos decorrentes de Eventos Supostamente Atribuíveis à Vacinação ou Imunização (ESAVI) cuja causa foi a vacina aplicada (12 pela AstraZeneca/Fiocruz e quatro pela Janssen).
'Ressalta-se que os 16 óbitos com relação causal confirmada correspondem a 1 caso a cada 20 milhões de doses aplicadas', explica o documento.
Mesmo com o registro desses casos raros, a Anvisa manteve a recomendação da continuidade da vacinação com os imunizantes da AstraZeneca e da Janssen por compreender que os benefícios superam os riscos.
Ministério da Saúde acompanha casos adversos
No conteúdo viral, o jornalista Alexandre Garcia acusa o Ministério da Saúde de estar avisando somente 'agora', referindo-se à data de publicação do vídeo, em abril de 2023, que as vacinas supostamente causaram trombose. Contudo, pelo menos desde abril de 2021, a pasta orienta sobre a identificação, investigação e manejo da STT no contexto da imunização contra o coronavírus no país.
Além da nota técnica de abril de 2021, as recomendações foram atualizadas em 4 de agosto do mesmo ano com a publicação da Nota Técnica nº 933.
No item 3.7 da nota de dezembro de 2022 que atualiza as recomendações de uso da AstraZeneca e Janssen é dito: 'As vacinas de vetor viral estão indicadas para uso na população a partir de 40 anos de idade e; em pessoas de 18 a 39 anos de idade, devem ser administradas preferencialmente vacinas covid-19 da plataforma de RNAm, entretanto, nos locais de difícil acesso ou na indisponibilidade do imunizante dessa plataforma, poderão ser utilizadas as vacinas de vetor viral (AstraZeneca e Janssen)'.
O Checamos já verificou outros conteúdos enganosos sobre reações adversas às vacinas contra a covid-19 (1, 2, 3).
Esse texto faz parte do Projeto Comprova. Participaram jornalistas da Folha de S.Paulo e do Estadão. O material foi adaptado pelo AFP Checamos.
Referências
- Vídeo publicado na página de Alexandre Garcia no YouTube
- Recomendação de uso da vacina AstraZeneca/Oxford pela Anvisa
- Autorização da AstraZeneca pela Anvisa
- Autorização da AstraZeneca pela OMS
- Atualização de recomendação sobre aplicação da AstraZeneca
- Vacinas autorizadas pela Anvisa
- Nota da Anvisa de 13 de abril de 2023
- Nota da Fiocruz de abril de 2023