A imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) supostamente sendo perseguido por militares durante a ditadura em 1964 é uma montagem. O conteúdo tem sido compartilhado mais de 15 mil vezes por usuários nas redes sociais desde 30 de junho. O registro original, do fotojornalista Evandro Teixeira, mostra na verdade um participante de um protesto organizado por movimentos estudantis em junho de 1968, que teve forte repressão e ficou conhecido como 'Sexta-feira sangrenta'.
'Tem que fazer um quadro e eternizar essa foto em um museu. Militares botando Lula pra correr desde 1964. Esta foto não tem preço', diz o texto sobreposto à imagem que foi compartilhada por usuários no Facebook, no Kwai e no TikTok.
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Na imagem, Lula supostamente aparece caindo no chão durante uma perseguição por dois militares, que portam cassetetes.
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Mas o conteúdo foi manipulado: o rosto do presidente foi colocado no manifestante que tenta fugir dos policiais. Além disso, o registro não ocorreu em 1964, como alegam alguns usuários.
'Sexta-feira sangrenta', em 1968
Uma busca no Google por notícias sobre uma suposta perseguição a Lula durante a ditadura, filtrando por imagens, levou a matérias publicadas sobre o dia conhecido como 'Sexta-feira sangrenta', quando pelo menos 28 pessoas foram mortas e mais de mil foram presas após a forte repressão a um protesto contra o regime militar no centro do Rio de Janeiro, em 21 de junho de 1968.
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Entre os registros desse dia, se encontra a imagem original, em que é possível perceber não ser Lula a pessoa perseguida pelos militares na ocasião.
Uma nova busca por palavras-chave utilizando o nome do autor da foto presente nos créditos, Evandro Teixeira, levou a mais informações sobre o registro. Sob o enunciado 'Dois objetos e um objetivo', a instantânea foi publicada originalmente sem crédito no pé da primeira página do Jornal do Brasil, em 22 de junho de 1968.
A imagem também faz parte do acervo digital do Instituto Moreira Salles (IMS).
Sem identificação
Teixeira contou em entrevista à Folha de S. Paulo que no dia da 'Sexta-feira sangrenta' trabalhava no Jornal do Brasil e estava encarregado de cobrir os protestos.
Após o registro da cena, os agentes correram em direção a Teixeira, que conseguiu escapar, segundo a mesma entrevista. O jovem perseguido não chegou a ser identificado.
O AFP Checamos já verificou outras imagens relacionadas à ditadura militar anteriormente (1, 2).
Esse conteúdo também foi checado por Agência Lupa, Aos Fatos e UOL Confere.