O Fórum Econômico Mundial (FEM ou WEF, na sigla em inglês) não anunciou que a moda 'será abolida até 2030' e que, consequentemente, 'todos os humanos usarão uniforme', ao contrário do que afirmam publicações compartilhadas dezenas de vezes nas redes sociais desde 3 de julho de 2023. Os conteúdos citam o estudo 'O futuro do consumo urbano em um mundo de 1,5 °C', de 2019 e sem relação com o FEM, que inclui recomendações para combater as mudanças climáticas, como a 'meta' de comprar apenas três peças de vestuário por ano até 2030.
'WEF diz que a moda será abolida até 2030: 'Todos os humanos usarão uniforme'', afirmam publicações no Facebook, no Telegram e no Twitter.
O conteúdo também circula em espanhol.
Leia Mais
Publicações tiram de contexto fala de Gilmar sobre segurança das urnasLula não tem 249 milhões de euros no Banco do VaticanoPublicações tiram de contexto fala de ministro do TSE para alegar que urnas foram fraudadasBolsonaro não foi recebido por multidão em Confins (MG) em julho de 2023; vídeo é de 2017Lula correndo de militares: foto é viral é montagem
A entidade é alvo frequente de desinformação, verificada em diversas ocasiões pela AFP (1, 2, 3).
Estudo sem relação com o FEM
As publicações são compartilhadas junto a uma captura de tela com o logo do site Tribuna Nacional, onde se lê: 'WEF diz que a moda será abolida até 2030: 'Todos os humanos usarão uniforme''. O portal já publicou afirmações sobre o Fórum Econômico Mundial, vacinas e a pandemia de covid-19 verificadas anteriormente pela AFP (1, 2, 3, 4).
Leia: A Caixa suspendeu a taxação do PIX para PJs; a cobrança é permitida pelo BC desde 2020
Os conteúdos mencionam um documento escrito em 2019 e 'recentemente ressurgido', que afirma que 'os humanos só poderão comprar três peças de roupa por ano e serão proibidos de comprar ou consumir carne.'
E complementam: 'O relatório 'O Futuro do Consumo Urbano em um Mundo de 1,5°C', financiado pelo WEF, estabelece metas extremas para governos de todo o mundo reduzirem as emissões de gases de efeito estufa, de acordo com as ambições do Acordo de Paris de 2015'.
Leia: Vídeo é de políticos comemorando Bolsonaro inelegível?
Esse estudo foi elaborado pela empresa de consultoria britânica Arup Group, em parceria com a Universidade de Leeds, no Reino Unido, e a rede global C40, que, de acordo com a descrição do seu site, reúne '100 prefeitos das principais cidades do mundo unidos em ação para enfrentar a crise climática'.
Yann Zopf, chefe do departamento de imprensa do FEM, afirmou à AFP que a organização "nunca pediu a abolição da moda" e 'nunca fez a declaração de que 'todos os humanos usarão uniforme''. 'Essas são falsas alegações para desacreditar o importante trabalho que está sendo feito pelo Fórum Econômico Mundial sobre sérios desafios globais', disse ele em um e-mail em 12 de julho de 2023. Zopf acrescentou que o relatório mencionado nos conteúdos virais 'não é produzido pelo Fórum Econômico Mundial e não possui vínculo' com a organização.
Leia: Conteúdos alegando que 88 milhões de pessoas fizeram PIX para Bolsonaro têm premissas falsas
O departamento de imprensa da Universidade de Leeds endossou à AFP em um e-mail em 11 de julho de 2023 que "o relatório não foi produzido pelo WEF e a investigação foi realizada de forma independente".
Recomendações
De acordo com o relatório, seu objetivo é 'inspirar ações práticas', razão pela qual inclui uma série de recomendações às cidades para que cumpram o limite máximo de 1,5 grau de aumento da temperatura global estabelecido pelo Acordo de Paris.
O texto também lista os níveis de 'ambição' das cidades no combate às mudanças climáticas, divididos em diferentes ações. Em relação ao vestuário, afirma que uma 'meta ambiciosa até 2030' seria comprar apenas três novas peças de vestuário por pessoa a cada ano. Uma 'meta progressiva' seria oito peças de vestuário por pessoa.
O texto também aponta que ao comprar "menos roupas e tecidos novos" os residentes das cidades "poderiam economizar coletivamente US$ 93 bilhões em um ano". No entanto, o relatório esclarece que 'não defende a adoção generalizada dessas metas mais ambiciosas nas cidades'.
E acrescenta que os objetivos são incluídos para 'fornecer um conjunto de pontos de referência sobre os quais as cidades e outras partes interessadas possam refletir ao considerar diferentes alternativas de redução de emissões e visões urbanas a longo prazo'.
O estudo, portanto, não sugere abolir a moda. Enumera diferentes opções para reduzir as emissões relacionadas ao consumo em diferentes áreas, incluindo vestuário. Em nenhum lugar do documento há menção ao uso de uniformes em massa ou à proibição de comprar roupas.
O departamento de imprensa da Universidade de Leeds disse à AFP que "não houve menção a uma proibição da moda ou um uniforme para os cidadãos". A posição dos autores do relatório sobre o assunto pode ser lida na página 21 do documento:
'Em última análise, cabe às pessoas decidirem quais tipos de alimentos comer e como gerir as suas compras para evitar o desperdício de alimentos em casa. Também cabe às pessoas decidirem quantas roupas novas comprar, se devem possuir e dirigir um carro particular e quantos voos pessoais devem pegar'.
Por sua vez, o departamento de comunicação da rede C40 disse à AFP em um e-mail em 11 de julho de 2023 que o relatório 'é uma análise das emissões baseadas no consumo nas cidades C40, não um plano de adoção'.
'Cabe aos indivíduos tomarem as suas decisões pessoais de estilo de vida, incluindo que tipo de comida comer e que tipo de roupa preferem', acrescentou.