Publicações enganam ao atribuir o aumento da fome no Brasil, informada pelo relatório da Organização das Nações Unidas em julho de 2023, ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A alegação foi visualizada mais de 520 mil vezes nas redes sociais desde pelo menos o último dia 12 de julho, mas os dados sobre a insegurança alimentar apresentados no informe da ONU não foram coletados neste ano, mas entre 2020 e 2022, durante o mandato de Jair Bolsonaro (PL).
'Depois que Lula assumiu a presidência a fome voltou', diz o texto sobreposto a vídeos compartilhados no TikTok, no Instagram, no Kwai e no Facebook.
A afirmação circula em diferentes formatos (1, 2), mas sempre atrelados a reportagens transmitidas por telejornais sobre o aumento da fome no país.
Em julho de 2023, a ONU divulgou o relatório intitulado 'O estado da segurança alimentar e nutrição no mundo 2023'. No documento, relata-se, de fato, o aumento da fome no Brasil, que soma 21,1 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar.O texto acrescenta que há no país outras 70,3 milhões de pessoas com algum grau de insegurança alimentar e 10,1 milhões com desnutrição.
Mas, apesar da constatação sobre o aumento da insegurança alimentar entre os brasileiros, é enganoso atribuí-lo ao governo Lula, já que os dados foram coletados até 2022, antes, portanto, da posse presidencial.
Embora as publicações vinculem o aumento da fome ao governo Lula, as próprias reportagens usadas de base para o conteúdo viral mencionam o período de 2020 a 2022, citado pela ONU.
O mesmo período é citado aos 43 minutos e 54 segundos da íntegra da reportagem do Jornal da Record e nas sequências transmitidas pela TV Globo e pelo SBT, replicadas em algumas das publicações enganosas.
Corte do Bolsa Família
Algumas publicações relacionam o aumento da fome a um suposto corte no programa Bolsa Família realizado nos primeiros meses do mandato de Lula.
Já na gestão do petista, o governo federal esclareceu ter feito um corte de '1,5 milhão de cadastros que não atendem aos requisitos para participarem' do programa. De acordo com a Secretaria de Comunicação Social, 'a maioria desses cadastros pertence a pessoas com renda acima da de beneficiários'.
Segundo dados do Ministério da Cidadania, em julho de 2023 20,89 milhões de famílias receberam o Bolsa Família.
Esse conteúdo também foi verificado pelo Aos Fatos.