O estado norte-americano da Flórida não declarou que as vacinas de RNA mensageiro (mRNA) contra a covid-19 são armas biológicas, como sugerem publicações compartilhadas milhares de vezes nas redes sociais desde 19 de julho de 2023. Na verdade, essa classificação foi feita pelo Comitê Executivo do Partido Republicano de Brevard, um dos 67 condados da Flórida, que pede, em carta, que a aplicação dos imunizantes passe a ser considerada ilegal. Em uma ação paralela, o governador do estado pediu uma investigação sobre as vacinas, mas que ainda está em andamento.
'Flórida declara vacinas de mRNA Covid são uma 'Bio-Arma'. Legislação que pretende ser aprovada para tornar ILEGAL a administração de qualquer vacina mRNA do Covid-19 a qualquer pessoa no estado', diz uma das publicações compartilhadas no Facebook, no Telegram, e no Twitter, agora chamado X.
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Mas as alegações virais não correspondem ao conteúdo da reportagem. Segundo o noticiário, quem classificou os imunizantes como uma 'arma biológica' foi o Comitê Executivo do Partido Republicano de Brevard, um dos 67 condados da Flórida, e não o governo estadual.
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A reportagem mostra que a afirmação foi feita por líderes do grupo político em uma carta, na intenção de pedir a autoridades que proibissem a aplicação e o recebimento de vacinas neste estado norte-americano.
No documento de quatro páginas, o Comitê Executivo do partido em Brevard afirma, entre outras coisas, que 'evidências fortes e confiáveis foram recentemente reveladas de que a covid-19 e as vacinas de covid-19 são armas biológicas e tecnológicas'. O grupo ainda questiona a segurança e eficácia dos imunizantes e pede que a aplicação e o recebimento de vacinas de mRNA passem a ser ilegais na Flórida.
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Outros condados, como o de Lee, capitanearam iniciativas semelhantes; a proposta, porém, não ganhou apoio do Legislativo.
Depois que a reportagem foi ao ar, o conteúdo da carta foi aprovado em votação por membros do partido e, posteriormente, o documento foi enviado ao governador Ron DeSantis, ao procurador-geral Ashley Moody, aos senadores Rick Scott e Marco Rubio, e a outras autoridades, exigindo que as vacinas fossem proibidas no estado.
O Comprova, projeto de verificação colaborativa do qual o AFP Checamos faz parte, solicitou um posicionamento sobre o caso ao governo e ao Departamento de Saúde da Flórida, mas não obteve retorno.
Vacinas são investigadas pela Suprema Corte da Flórida
Após solicitação do governador do estado Ron DeSantis, em 13 de dezembro de 2022, a Suprema Corte da Flórida passou a investigar as vacinas contra a covid-19, conforme noticiou o The Guardian.
A justificativa de DeSantis para a apuração é, em parte, liberar mais informações das farmacêuticas sobre as vacinas e possíveis efeitos colaterais. Ele ainda argumenta que as empresas tinham interesse financeiro em criar um clima no qual as pessoas acreditassem que a imunização garantiria que não pudessem espalhar o vírus a outras pessoas.
Em 22 de dezembro de 2022, foi noticiado pela AP News que um grande júri seria convocado para a investigação. Esses júris estaduais, geralmente compostos por 18 pessoas, podem investigar atividades criminosas e emitir indiciamentos, mas também examinar problemas sistêmicos na Flórida e fazer recomendações.
O grande júri estadual se reunirá por um ano. Assim, não há, até o momento, nenhum resultado dos trabalhos divulgado pela imprensa. A investigação das vacinas, que deve ser concluída no fim deste ano, não tem relação direta com a carta elaborada por líderes do Partido Republicano no condado de Brevard.
Como já verificado anteriormente pela AFP, autoridades sanitárias atestam o uso dos imunizantes disponíveis contra a covid-19.
Esse texto faz parte do Projeto Comprova. Participaram jornalistas do UOL e Grupo Sinos. O material foi adaptado pelo AFP Checamos.