São montagens as capturas de tela que simulam matérias de portais jornalísticos noticiando ser possível resgatar supostos 'saldos disponíveis no CPF'. Publicações com essa alegação foram visualizadas milhares de vezes nas redes sociais desde maio de 2023. Mas o conteúdo não foi publicado pela imprensa e, em comunicado à AFP, o Banco Central afirmou que não há nenhum programa desse tipo sob sua coordenação.
'FAÇA UMA CONSULTA AGORA E VEJA SE VOCÊ TEM SALDO DISPONÍVEL', diz uma das publicações compartilhadas no Facebook e no TikTok.
As publicações simulam notícias de portais como UOL e g1 e apresentam a seguinte manchete: 'Última semana para fazer o resgate do saldo disponível no CPF'.
Ao clicar na imagem, porém, o usuário não é direcionado para uma matéria de um desses veículos, mas a um portal chamado 'Consulta Brasil', onde é possível ver campos para o preenchimento de dados como nome completo, data de nascimento e o número do Cadastro de Pessoa Física (CPF).Uma alegação semelhante também foi compartilhada em um vídeo de uma suposta reportagem do Jornal Nacional. O conteúdo circula, em sua maioria, em publicações patrocinadas encontradas na Biblioteca de Anúncios do Facebook, direcionando para o mesmo site.
Mas o conteúdo não foi publicado pelos portais e programas mencionados, e o 'Consulta Brasil' também não faz parte do domínio oficial do governo federal (gov.br).
Uma busca por palavras-chave em registros do portal UOL e do g1 não levou a matérias com o conteúdo viralizado.
Além disso, os conteúdos possuem inconsistências com padrões gráficos dos portais disponíveis em agosto de 2023, como é possível ver nas comparações abaixo.
Algumas publicações com alegações semelhantes também alteram a cor do portal g1, mudando o padrão de vermelho para azul.
Consultada pela AFP, a assessoria de imprensa do Banco Central desmentiu que esteja coordenando um projeto de resgate ao saldo disponível no CPF: 'Não há qualquer programa desse tipo sob a coordenação ou a supervisão do Banco Central. Também não temos conhecimento dessa iniciativa no âmbito do Governo Federal'.
A instituição também indicou que a mensagem pode fazer parte de um golpe, com base na 'falta de informação, benefício inesperado, urgência para resposta etc.'.
À AFP, a assessoria de comunicação do g1 negou que o material tenha sido publicado pelo portal. 'Conferimos internamente e não foi publicada pelo G1', diz a nota. O UOL não retornou o contato até a publicação desta checagem.
Reportagem do Jornal Nacional?
Uma das publicações também mostra um vídeo de uma suposta reportagem veiculada no Jornal Nacional, com a seguinte narração: 'Atenção, você está perdendo a oportunidade da sua vida. De acordo com o art.288º do Decreto 3023/99 que foi assinado nesta última segunda-feira, todos os brasileiros com CPF ativo e que já fizeram o uso de algum cartão poderão reclamar parte do valor bilionário que será liberado. Isso é seu por direito. Milhares de brasileiros já estão consultando o seu saldo'.
Mas uma nova busca pela suposta reportagem em registros do programa também não levou a nenhum resultado.
Uma consulta ao Decreto 3.023/99 mostrou, ainda, que a determinação, revogada em 26 de novembro de 2020, não tem nenhuma relação com as alegações.
Publicado em 8 de abril de 1999, o decreto foi criado para estabelecer 'preços mínimos básicos do algodão, feijão, raiz de mandioca e derivados, milho, sorgo e sementes, da safra de 1999, para as Regiões Norte e Nordeste'.
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