É enganosa a afirmação de que as urnas eletrônicas brasileiras foram reprovadas durante uma conferência anual de hackers conhecida como DefCon. Publicações com essa alegação foram visualizadas milhares de vezes desde 2018 e voltaram a circular em agosto de 2023, tirando de contexto um trecho do programa Estúdio I, da GloboNews. A reportagem, no entanto, é de 2017 e não menciona a reprovação de urnas eletrônicas brasileiras, mas norte-americanas. No mesmo ano, o TSE informou que nenhuma urna brasileira foi testada na ocasião.
'Olha a Globo hoje de manhã reconhecendo a vulnerabilidade da urna eletrônica. Após esta exibição, foi intimada pela Justiça Federal para não exibir a notícia nos demais telejornais da emissora. Dito e feito, nem no YouTube acha mais esta reportagem. Amigos, para o nosso bem e de nossos descendentes, metam o dedo e distribuam para todos os seus contatos', diz uma das publicações compartilhadas no Facebook, no YouTube, no X (antes Twitter).
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Ministério da Saúde não autorizou intervenção para 'mudança de sexo'Reportagem da Globo de 1996 não associa Lula, Dilma e FHC a justiçamentos; vídeo foi manipuladoNão é possível resgatar 'saldo disponível no CPF'; Banco Central nega existência do programaSegundo afirma um dos comentaristas, todas as urnas testadas no evento foram hackeadas pelos participantes em menos de duas horas.
Mas em nenhum momento afirma-se que as urnas eletrônicas brasileiras estavam entre as testadas, como sugerem os usuários.
Uma busca por palavras-chave no Google levou à reportagem original, que foi ao ar em 7 de agosto de 2017.
Ao assistir a íntegra da gravação, é possível perceber que as publicações virais omitem um trecho em que o pesquisador Ronaldo Lemos explica que os modelos de urnas testados na conferência tinham relação com os Estados Unidos e que não se sabe se o equipamento brasileiro foi analisado.
A partir do minuto 1:10 do vídeo original, Lemos diz: 'Para o Brasil não é uma luz vermelha, a gente tem que lidar com calma com essa situação porque depois as pessoas ficam achando que isso tem a ver com o Brasil. Não. Isso aconteceu nos Estados Unidos, com alguns modelos, e não é claro se o modelo da urna brasileira, específico, foi uma dessas que foram testadas, ou não'.
- Leia: Publicações enganam ao usar fala de hacker sobre código-fonte para questionar segurança das urnas
Uma nova busca por palavras-chave, filtrando pelo ano de 2017, levou a uma matéria publicada no site oficial do Tribunal Superior Eleitoral sobre o tema. De acordo com o TSE, dois técnicos da Secretaria de Tecnologia da Informação acompanharam os trabalhos na edição da DefCon em 2017.
A missão deles, segundo a instituição, foi conferir de perto a chamada Voting Machine Hacking Village, um espaço reservado dentro da conferência para que hackers tentassem atacar modelos de urnas eletrônicas.
Mas, de acordo com os técnicos presentes, os participantes analisaram somente modelos de urnas usadas nos Estados Unidos, e nenhuma urna brasileira foi submetida a testes na ocasião. O TSE também publicou um vídeo para desmentir o caso em seu canal oficial no YouTube, em 20 de julho de 2021.
A DefCon é uma conferência anual de hackers que ocorre em Las Vegas, nos Estados Unidos. A edição de 2017 aconteceu de 27 a 30 de julho e foi a primeira a ter o espaço reservado para testes relacionados à tecnologia eleitoral.
Uma consulta ao relatório do Voting Machine Hacking Village de 2017, disponível no site da DefCon, mostrou que no documento não há nenhuma menção às urnas eletrônicas brasileiras. De acordo com o relatório, as consultas tiveram o propósito de testar o sistema de votação norte-americano.
Ao final, a equipe responsável pelo relatório concluiu: 'Os organizadores do DefCon acreditam que a Voting Village foi vital para aumentar a base de conhecimento, expandindo o círculo de partes interessadas para além dos hackers, e chamando atenção nacional para as graves deficiências cibernéticas da infraestrutura eleitoral dos EUA'.
O AFP Checamos já verificou alegações semelhantes sobre supostos ataques hackers às urnas eletrônicas brasileiras (1, 2).
Conteúdo semelhante foi checado pelo Estadão Verifica e Aos Fatos.