Vinte dias depois da denúncia da organização não-governamental (ONG) internacional Greenpeace, de que moradores do povoado de Juazeiro, no município de Caetité, a 759 quilômetros a oeste de Salvador, estavam consumindo água contaminada por urânio, o governo da Bahia confirmou nesta quarta a situação.
Em nota, o Instituto de Gestão de Águas e Clima (Ingá), da Secretaria do Meio Ambiente do governo estadual, informou que, a partir da denúncia, coletou material de sete poços utilizados para obtenção de água pela população. Em um dos poços foi constatada concentração maior do mineral radiativo do que o permitido pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama). Em outros dois foram encontradas concentrações "toleráveis" de urânio e, nas quatro restantes, não houve ocorrência do mineral.
O Ingá informou que a análise ainda é preliminar, mas que o poço foi interditado pela Defesa Civil e que as famílias que faziam uso da fonte terão a saúde monitorada, com o acompanhamento da Secretaria Estadual da Saúde. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o contato com urânio por humanos poderia causar o desenvolvimento de cânceres e anomalias fetais. O fornecimento de água a elas será feito por carros-pipa.
De acordo com o Greenpeace, a contaminação seria resultado da atuação da estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB) na região, onde mantém um grande campo de exploração e beneficiamento de urânio. A direção da INB nega. "Fazemos análises sistemáticas de nossas operações, em 50 pontos ao redor da mina, e não há nada de irregular", afirmou o diretor de Recursos Naturais da INB, Otto Bittencourt Neto. "A região toda conta com o minério em seu subsolo. É possível que alguém tenha aberto um poço em uma área de ocorrência de urânio."
O Ministério Público foi acionado para ajudar nas investigações. "Ainda não é possível afirmar se os resultados são provocados pela atividade de mineração da INB ou se é natural, por causa da presença do mineral no solo da região", disse o diretor-geral do Ingá, Julio César Rocha.