Testemunha contra Nenê Constantino, fundador da Gol, é baleada
Ouvido nesta terça-feira pelo promotor Bernardo Urbano, Santos disse que o autor dos disparos seria o policial civil Nogueira, afastado das funções por envolvimento em crimes. Ele estava hospedado na casa de um comerciante de Águas Lindas, Reginaldo Costa. Há duas semanas, Nogueira e Reginaldo fizeram-lhe uma visita ameaçadora em companhia de Vanderlei Batista da Silva, capataz de Nenê e também réu no processo do atentado contra o genro do empresário.
Na ocasião, segundo relato de Santos, o capataz lhe perguntou de forma incisiva se não iria mudar o depoimento do dia 1º. Ele disse que não. Na última sexta-feira, Nogueira foi de novo à casa de Santos, na caminhonete F-200 pertencente a Reginaldo, dirigida por um terceiro, ainda não identificado. Santos saiu à porta com o filho caçula no colo e, ao colocá-lo no chão para conversar, foi atingido pelo primeiro disparo. Ele tentou correr mas foi atingido por mais dois tiros e tombou.
Apesar da gravidade dos ferimentos, Santos está fora de perigo e será incluído no programa de proteção a testemunhas. Ele está internado com nome falso por medida de segurança. O depoimento do dia 1º deve ser mantido e desperta muito interesse dos investigadores porque Santos admitiu que fazia serviços de pistolagem para Nenê há vários anos. Ele disse ter participado de oito assassinatos, entre os quais o do líder comunitário Márcio Leonardo de Sousa Brito, morto com três tiros em outubro de 2001.
Brito comandava um grupo de cem pessoas que ocupou o terreno em que está a garagem de ônibus da viação Planeta, pertencente a Nenê, em Taguatinga (DF). O empresário tentava expulsar os ocupantes e chegou a ameaçar pessoalmente o líder, que teve a casa incendiada meses antes de ser morto. Quando prestava depoimento por esse crime, em dezembro passado, o empresário recebeu voz de prisão, decretada pela Justiça por conta da tentativa de assassinato do genro Eduardo Queiroz.
Em processo de separação litigiosa da filha de Nenê, Queiroz havia levado à polícia provas de que o fundador da Gol seria o mandante do assassinato do líder comunitário. Quando saía da sua empresa, em 5 de junho de 2008, ele foi seguido por um homem, que descarregou o revólver contra seu carro em movimento, mas nenhum dos tiros o atingiu. Preso, o ex-policial militar José Humberto Cruz confessou ser o autor dos disparos.
O advogado Marcelo Bessa nega que o empresário tenha envolvimento no atentado a Santos ou em qualquer dos crimes a ele atribuídos. A Gol, por sua assessoria, informou que não comentará as acusações porque Nenê está formalmente desligado da companhia desde 2001 e sequer faz parte de seu conselho. A empresa entende também que se trata de uma questão estritamente pessoal e familiar de Constantino.