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Estado de Minas

Agricultora do Semiárido alfabetiza crianças em quilombo na Bahia


postado em 08/03/2011 15:44

(foto: Agência Brasil)
(foto: Agência Brasil)
A vida e a força de vontade de Alexandra dos Santos Rocha, 23 anos, fazem a diferença para os moradores do quilombo Lagoa do Gaudêncio. Mesmo sem concluir o ensino médio, Alexandra é a responsável pela alfabetização de dezenas de crianças quilombolas de sua comunidade, localizada no município de Lapão, a cerca de 10 quilômetros de Irecê, em pleno Sertão da Bahia. O curso de pedagogia ainda é um sonho distante. A única escola próxima com o curso de magistério fechou há 3 anos. A instituição era particular e ficava em Aguada Nova, uma comunidade a cerca de 5 quilômetros do quilombo. %u201CSeria muito bom se a gente tivesse por aqui uma escola e uma creche para que as mulheres pudessem também estudar%u201D, diz a agricultora rural que espera traçar um destino diferente do de centenas de mulheres da região que se casam e depois disso não conseguem outro ofício a não ser o de cuidar da casa e dos filhos. O marido de Alexandra, Erisvaldo Afro dos Santos, 29 anos, também se ressente de mais oportunidades para as mulheres. %u201CAqui, as mulheres se casam com seus 14 ou 15 anos e, a partir daí, não conseguem mais estudar. Temos dificuldades de tudo: de escola de 5ª a 8ª série para as crianças, de ensino médio para os adultos, de creches para deixar as crianças%u201D, reforça o marido que, ao lado de Alexandra também é responsável pela alfabetização de crianças. Os dois esperam o primeiro filho para daqui a dois meses. As consultas de pré-natal estão em dia, mas o exame de ultra-som não permitiu ver o sexo da criança. %u201CO bebê estava virado e por isso não deu pra ver se é menino ou menina. Vai ser surpresa%u201D, conta Alexandra. O que impressiona qualquer visitante de Lagoa do Gaudêncio é perceber que onde falta o academicismo, sobra sabedoria, consciência ecológica e humana, que permitem uma convivência cada dia mais exitosa com o difícil Semiárido nordestino. Há dois anos, o quilombo, que conta com aproximadamente 200 famílias, passou a comemorar o Dia da Consciência Negra, no dia 20 de novembro. Com capoeira, reisado [festa popular em que se lembra o nascimento de Jesus e tem início no Dia de Reis], e até discussões sobre mudança do nome do quilombo, os moradores de Lagoa do Gaudêncio exibem com orgulho um fato que os homens trazem no sobrenome: o de ser um afro brasileiro. %u201CMeu avô dizia que, antes, nosso quilombo era conhecido como Fazenda do Alto. Depois, mudou de nome para Lagoa do Gaudêncio e nessa época, o preconceito fez com que as pessoas começassem a chamar o local de Lagoa dos Pretos. Era comum ouvir gozações em cima do caminhão do tipo: 'fulano vai descer na Lagoa dos Pretos'. A gente agora quer mudar o nome. Queremos colocar Lagoa Afro%u201D, conta Erisvaldo, que também estuda inserir no nome das mulheres a referência afro. %u201CSó não sabemos se vamos colocar 'Afro' ou 'África', afirma. %u201CO que ficar mais bonito a gente deixa%u201D, brinca. A família é beneficiária do programa Bolsa Família. Só no município de Irecê, mais de 7 mil famílias são atendidas pelo programa. Alexandra também recebeu uma cisterna que permite captar a água da chuva, armazenar, alimentar a criação de cabras e irrigar os diversificados canteiros de agricultura orgânica. No fim de semana, Erisvaldo e Alexandra vendem verduras, frutas e temperos em uma feira de Aguada Nova. %u201CNão usamos veneno%u201D, orgulha-se a agricultora. %u201CQuando não tínhamos a cisterna, a gente sofria com os animais%u201D, conta Alexandra, que acredita que, para sua vida no Sertão, têm mais eficiência as pequenas ações governamentais do que as grandes obras estruturais que demoram anos entre o anúncio e a entrega. %u201CPrecisamos de coisas simples, baratas para o governo, e que adiantariam muito a nossa vida. Precisamos de uma escola, de creche, de cisternas%u201D, reclama. O município de Irecê foi o escolhido pela presidenta Dilma Rousseff para lançar as comemorações do mês de maio, dedicado às mulheres. Foi lá que a presidenta anunciou o reajuste no Bolsa Família. Cidade polo de uma região de mais de 27 mil quilômetros quadrados de Semiárido baiano, na década de 90, a cidade chegou a ficar conhecida como a capital do feijão devido a uma política governamental de incentivo ao plantio da leguminosa. A irregularidade das chuvas, as práticas agrícolas não sustentáveis e o consequente endividamento dos produtores fizeram essa cultura declinar. A área que envolve o município é tratada pelo governo federal como um dos Territórios da Cidadania. São 26 quilombos espalhados pela região que congrega 20 municípios menores: Central, Gentio do Ouro, Itaguaçu da Bahia, João Dourado, Xique-Xique, América Dourada, Barra do Mendes, Barro Alto, Cafarnaum, Canarana, Ibipeba, Ibititá, Ipupiara, Irecê, Jussara, Lapão, Mulungu do Morro, Presidente Dutra, São Gabriel e Uibaí. A população total do território é de mais de 400 mil habitantes. Desses, mais de 160 mil vivem na área rural, o que corresponde a 40,03% do total. O Índice de Desenvolvimento Humano da região é baixo: 0,610.


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