Jornal Estado de Minas

Pais demonstram dor e revolta pela morte dos filhos em escola de Realengo

Paula Sarapu

Julio Cesar de Oliveira, pai de Karine Loraine Chagas de Oliveira, de 14 anos, aluna morta no massacre, reconhece o corpo da filha no IML - Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press

 

A menina Karine Lorraine Chagas de Oliveira, de 14 anos, realizava seu sonho há três semanas, quando começou a praticar atletismo em um quartel da Polícia Militar. A vontade de participar de uma Olimpíada levou a menina a se preocupar com os horários e a alimentação. Nesta quinta-feira cedo, antes de ir para a Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, Zona Oeste do Rio, comeu uma banana e pediu a benção da avó, com quem morava desde os quatro anos de idade.

"Deus se esqueceu dela ou essa é a nossa triste realidade?", questionava-se a vendedora de lanches Nilza da Cruz Ferreira, de 63 anos, sem conseguir conter as lágrimas. "Aquele rapaz levou minha vida", repetia.

Boa aluna, Karine cursava o 8º ano do ensino fundamental e gostava de sentar sempre à frente da sala. Ela foi atingida na cabeça. "A criança sai para ir à escola e acaba morta com um tiro na testa. A gente não consegue acreditar no que aconteceu e fica imaginando o susto, o desespero dela tentando escapar daquele perturbado, como as outras crianças", lamentou a tia Daniele Martins de Jesus, de 29 anos.

A adolescente Laryssa Silva Martins, de 14 anos, já estava morta dentro da sala quando uma coleguinha avisou ao pai da menina pelo celular. Clóvis Martins, em desespero, foi até a escola e chegou a pegar a filha nos braços. "Ele viu que não tinha mais o que fazer. Laryssa foi socorrida por uma Kombi, mas já estava sem vida. Nossa família está desestruturada", afirmou o tio dela, Gerson da Silva Guilherme, de 47. Arrasado, Clóvis não conseguia esconder sua dor, na porta do Instituto Médico Legal (IML). "Meu anjinho de candura foi embora".

Herói

Uma equipe de policiais do Batalhão de Policiamento em Vias Especiais (BPVE) fazia uma blitz a dois quarteirões da escola, quando foram acionados. Dois deles chegaram a pé e entraram, atrás do atirador, que já subia as escadas para o segundo andar. Ao ver Wellington atirando contra crianças, o sargento Márcio Alexandre Alves, de 38 anos, fez um disparo certeiro na barriga do assassino, que se matou.

"Tenho um filho dessa idade e estou muito triste com o que aconteceu, mas a sensação é de dever cumprido porque ele poderia ter matado outras crianças", disse o policial, que tem 18 anos de corporação.