Jornal Estado de Minas

Tragédia mobiliza cariocas, que fazem doações de sangue em massa

Trabalho voluntário de médicos e enfermeiros foram resposta dos moradores da capital fluminense ao episódio que chocou o Brasil

Correio Braziliense
Quem procurou as unidades do Hemorio esperou, em média, quatro horas para fazer a doação: 900 pessoas atendidas até o início da noite - Foto: Simone Marinho/ Agência ogloboO massacre que na manhã dessa quinta-feira aterrorizou o bairro de Realengo, na cidade do Rio de Janeiro, foi sucedido por uma onda de solidariedade que tomou os cariocas, chocados com tamanha violência praticada por um rapaz de 23 anos, que depois de disparar dezenas de tiros, tirou a própria vida. O primeiro ato que traduz o início de uma comoção aconteceu logo após os disparos, quando o pai de dois alunos socorreu seis feridos. Médicos que estavam de folga se apresentaram espontaneamente no Hospital Albert Schweitzer, próximo ao local onde ocorreu a chacina, e voluntários formaram longas filas em diversos pontos da cidade para doar sangue.
Ainda pela manhã, quando o Instituto Estadual de Hematologia do Rio de Janeiro (Hemorio) fez um apelo à população em busca de doações de sangue. Em nota, a instituição relatou que precisava da colaboração da sociedade para repor o baixo estoque disponível. Atentos ao pedido, os cariocas lotaram a unidade da coleta do centro da cidade. Até o começo da noite de ontem, 900 pessoas já haviam passado pelo local.

A demonstração de solidariedade às vítimas do ataque mobilizou também 50 policiais militares de Unidades de Polícia Pacificadora, que também se prontificaram a fazer doações. A média de espera na fila foi de quatro horas. À tarde, o ex-atacante e atual presidente do Vasco, Roberto Dinamite, convocou torcedores do clube a fazerem o mesmo. A procura pelas unidades do Hemorio foi tão grande que a enfermeira responsável pelo setor de promoção de doações, Neusimar Carvalho, pediu ao público que voltasse hoje. “O importante é que os doadores continuem a vir nos próximos dias”, ressaltou.

Solidariedade
Pai de dois alunos da escola que sofreu o ataque, o técnico em eletrônica Robson de Carvalho, 48 anos, relatou que a filha ligou para a mãe para relatar a tragédia. Ele contou que, em seguida, correu em direção à Escola Municipal Tasso da Silveira em busca de notícias. O filho já estava fora da unidade de ensino, mas a menina continuava no terceiro andar, onde professoras trancaram as salas para evitar a entrada do assassino. Ao se deparar com os primeiros alunos que apareceram feridos em frente ao colégio, ele diz ter colocado seis deles em sua caminhonete e seguido rumo ao Hospital Albert Schweitzer. “Foi muito grave, nunca tinha visto nada igual. As crianças também vão ficar marcadas, mas graças a Deus meus filhos estão bem”, contou, emocionado.

José Marcos Sobrinho, 28 anos, também prestou socorro a um estudante ferido. Ele relatou que seguia para uma entrevista de emprego quando foi abordado por três crianças — uma delas atingida por um tiro. Sobrinho contou que pediu ajuda a um motorista que passava pelo local para que levasse a menina de 11 anos ao pronto-socorro. A garota teria dito, no momento em que era socorrida, que diversas crianças da escola foram atingidas com tiros na cabeça.

À medida que as crianças baleadas chegavam ao Hospital Albert Schweitzer, médicos e enfermeiros pareciam não acreditar no que viam. Uma médica disse que profissionais das mais diversas áreas da unidade hospitalar se juntaram à equipe de emergência para prestar socorro aos feridos. Segundo ela, enquanto prestavam atendimento, os profissionais choravam.