O trágico fim do 'Príncipe da Carumbé', vítima do massacre na escola do Rio
De acordo com amigos presentes no enterro, o jovem, amante da banda de rock Linkin Park, era tranquilo e brincalhão, gostava de participar de todas as atividades na escola.
Segundo Wagner, Rafael tentava ingressar no programa do governo federal chamado "Menor aprendiz", que encaminha jovens para o mercado de trabalho. Segundo o padrinho do menino, era apenas uma questão de regularizar seus documentos para que começasse a trabalhar em um supermercado.
"E tudo acabou assim, dessa maneira horrível", lamentou Wagner.
"Era um menino bom demais", disse chorando sua vizinha, Marly Bonfim de Souza, tentando entender, como todos os brasileiros fazem neste momento, as razões que levaram Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, a atirar impiedosamente em jovens estudantes indefesos.
"Acho que ele devia ser um pobre coitado, vítima de preconceito", considerou Marly.
A alegria de Rafael contrastava com seu passado turbulento. Rejeitado pelos pais biológicos, ele foi criado por Cátia Maria da Silva Pinto, de 34 anos, a quem considerava sua verdadeira mãe.
Cátia não teve forças para acompanhar o enterro e permaneceu sentada após o velório.
"Meu Deus do céu! Eu quero meu filho de volta", repetia Cátia desesperada, enquanto era amparada por uma amiga que tentava consolá-la. "Calma, tudo tem um propósito", disse a amiga.
"A mãe nunca quis saber dele. Disse isso nitidamente para ele", disse Cátia à AFP.
Quando se preparava para deixar o cemitério, a mãe adotiva de Rafael revelou o desejo do rapaz.
"O sonho dele era ser registrado por mim e pelo meu marido. Mas eu não consegui porque a justiça no Brasil é falha. Eles exigiam a presença da mãe biológica, que nunca quis ele", afirmou.
Em uma quinta-feira qualquer, que havia começado como qualquer outro dia de aula, o "Príncipe da Carumbé" teve a sua trajetória de vida interrompida tragicamente sem ter realizado sequer o seu maior desejo.
"Ele morreu sem ter um pai e uma mãe. Ele morreu sem ter o sonho dele", desabafou sua mãe de coração, Cátia.