“A escola é o meio em que a gente desenvolve todas as nossas relações sociais e tem uma função extremamente importante nesse acolhimento da dor e no desenvolvimento do enfrentamento. Então, é o momento em que essa comunidade periférica da escola entra para se solidarizar e reconstruir essa sociedade”, avalia a especialista.
Ela sugere que, com o apoio da escola, os estudantes promovam encontros para falar da perda dos amigos e de como isso os afetou. “Essa idade em que os adolescentes se encontravam é uma idade onde eles estão finalizando a elaboração do seu desenvolvimento psíquico. É uma fase em que eles se apoiam muito no outro para ter seus parâmetros. Por isso, se agregam em grupos.”
Devido a essa característica gregária, os adolescentes devem estar unidos para vivenciar a perda, mas também, num momento posterior, comemorar a vida de quem sobreviveu ou superou a tragédia. “Isso daria a essas pessoas a oportunidade de retomarem a vida numa direção positiva. Elaborar o luto é importante, mas comemorar a vida também é importante”, observa.
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Em alguns casos, de acordo com Dirce, a pessoa tem dificuldades para superar o estresse agudo e é necessário um acompanhamento psicológico mais longo. “Se a pessoa não melhorar, aí, sim, a gente adota uma conduta de psicoterapia mais a longo prazo, porque outros fatores estão colaborando para que o caso se agrave.”
As intervenções mais breves, segundo ela, podem durar entre 20 e 40 sessões, mas os tratamentos a longo prazo podem ultrapassar 50 sessões.