Jornal Estado de Minas

Quantidade de jovens assassinados é mais que o dobro da média nacional

Renata Mariz
Média de homicídios no país é de quase 26 assassinatos por 100 mil habitantes, entre garotos de 17 a 19 anos a taxa chega a 59. - Foto: REUTERS/Ricardo Moraes
O massacre executado por um atirador dentro da Escola Estadual Tasso da Silveira, no Rio de Janeiro, completa uma semana levantando debates de toda ordem. Plebiscito para uma nova consulta popular sobre a venda de armas, necessidade de detectores de metal nas portas das escolas, votação de projetos de segurança pública, realização de uma campanha séria de desarmamento. Embora todas as iniciativas sejam válidas, o assassinato dos 12 meninos e meninas de Realengo aponta para um problema muito maior: a matança diária imposta pela violência a crianças e adolescentes brasileiros. Enquanto a média de homicídios no país é de quase 26 assassinatos por 100 mil habitantes, entre garotos de 17 a 19 anos a taxa chega a 59.

As informações mais atuais, retiradas do Mapa da Violência 2010, feito com base nas certidões de óbito de todo o país registradas em 2007, mostram ainda que o índice se torna alarmante a partir dos 14 anos, faixa etária em que morrem 9,4 meninos entre 100 mil — quase alcançando a taxa de 10 assassinatos por 100 mil habitantes, marca para a Organização Mundial da Saúde classificar a situação como uma epidemia de violência. O Distrito Federal, em quinto lugar no ranking de homicídios na população total, subiu uma posição no que diz respeito à morte de pessoas de zero a 19 anos. A taxa de 24,2 mortes por 100 mil habitantes só é superada por Pernambuco, Alagoas e Espírito Santo.

Para Karina Figueiredo, uma das coordenadoras do Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes (Cecria) no Distrito Federal, as razões das altas taxas de mortalidade nessa população têm aspectos peculiares. “Enquanto no Rio de Janeiro vemos o problema do tráfico influenciando muito fortemente os números de homicídios entre garotos e garotas, aqui no DF eu diria que o problema maior está na cultura de gangues. Temos muitas que se odeiam, que se matam mesmo, sem nem saber a razão da rivalidade. E o acesso a armas é irrestrito, basta que a criança ou o adolescente tenha dinheiro para pagar”, afirma.

Coordenadora do programa de controle de armas do Instituto Sou da Paz, Alice Ribeiro destaca também a falta de habilidade para resolver conflitos. Com tal proposta, a entidade civil realiza, desde o ano passado, ações relacionadas ao Dia do Desarmamento Infantil, comemorado em 15 de abril. “Não sabemos como a data foi criada exatamente, mas ela já existe há alguns anos e nossa ação já estava programada, não foi em função do triste episódio em Realengo”, explica Alice. Com a participação de 150 escolas da capital de São Paulo, o projeto, que começou na segunda e se estenderá até sexta-feira, recolheu 1,9 mil armas de brinquedo e 2,6 mil DVDs com conteúdo violento. Fortaleza é outra cidade que participa da ação, tendo recolhido mais de 30 mil armas de brinquedo desde a primeira campanha, em 2005.

Em Realengo, na missa de sétimo dia, realizada em um palco montado próximo à escola, centenas de pessoas se reuniram para homenagear os mortos no ataque à escola. Ana Carolina Oliveira, mãe de Isabella Nardoni, morta em março de 2008, compareceu à celebração para prestar solidariedade. Um helicóptero da Polícia Civil jogou pétalas de rosas durante a cerimônia.

Mais de 100 no DF

A Polícia Civil mapeou a existência de 100 gangues no Distrito Federal, mas 26 são consideradas, de fato, perigosas. Plano Piloto, Ceilândia, Guará, São Sebastião e Planaltina são os principais locais de atuação dos jovens. A idade dos integrantes das gangues varia muito — de crianças a adultos jovens. O controle territorial e a pichação marcam a rivalidade entre eles.