No Brasil, tenta-se, desde o início de 2000, por meio de políticas de segurança pública, reduzir o número de homicídios, com prioridade para homens, jovens, negros e pobres. Em São Paulo, por exemplo, as ações surtiram efeito. Mas, do total de assassinatos no estado, o número de mulheres mortas cresceu de 9% para 15% em 2010. O mesmo ocorreu no Espírito Santo, onde até uma Delegacia de Homicídios e Proteção à Mulher precisou ser criada para reagir à escalada dos crimes.
Entre os capixabas, passou de 7% do total geral em 2008 para 10,3% no ano passado. Bahia, Ceará, Alagoas, Maranhão, Paraíba, Roraima e Santa Catarina também registraram crescimento significativo do femicídio nos últimos anos. No Distrito Federal, o registro mais recente é de 2008, quando 64 mulheres morreram, um crescimento constante desde o fim da década de 1990, quando a média anual era de 50 homicídios. Em Goiás, há registro de 200 assassinatos de mulheres no ano passado %u2014 parte delas moradoras do Entorno. Como comparação, em Ciudad Juarez, no México, uma das regiões mais violentas da América Latina, entre 1993 e 2009 foram 3 mil mulheres assassinadas %u2013 uma média de 176 casos por ano. Os governos do Rio Grande do Sul, Paraná, Tocantins, Mato Grosso do Sul e Sergipe alegaram não ter recorte por gênero dos assassinatos. O mesmo ocorre em Minas Gerais. A falta de estatísticas confiáveis e atualizadas prejudica a análise do cenário da matança. Em Pernambuco, por exemplo, o monitoramento dos casos por movimentos sociais levou o governo, em 2008, a efetivar políticas de redução da mortalidade. O estado registrava, em média, uma mulher assassinada por dia. O último Mapa da violência aponta Escada, na Região Metropolitana do Recife, como a cidade mais violenta para o sexo feminino. A taxa registrada em 2008 era de 25,2 mortes para 100 mil mulheres. Segundo o estudo, 90 municípios brasileiros tiveram índice acima de oito femicídios por 100 mil moradoras, ou seja, o dobro da média nacional. "Estamos num país que não conta suas mortes como deveria. O máximo que sabemos é o tipo de instrumento. Precisamos entender onde essas mulheres estão, de quais meios participam e em que contexto são assassinadas. Só assim poderemos propor uma categoria de morte", analisa a pesquisadora Wânia Pasinato, do Núcleo de Estudos de Gênero da Universidade de São Paulo (USP).