“Uma região de nascentes não aguenta desaforo.” A afirmação do pesquisador Jorge Enoch Furquim, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Cerrados), ressalta a vulnerabilidade de áreas que funcionam como drenos e que, por essa peculiaridade, deveriam ter prioridade nas políticas oficiais de preservação. “Há pivôs em áreas de nascentes na Bacia do Rio Preto, por exemplo. Às vezes, o pivô é o melhor método, mas o problema está em concentrar demais, sem avaliar a capacidade hídrica.”
Um estudo de Jorge Enoch e de outros pesquisadores da Embrapa Cerrados quantificou os pivôs centrais existentes no Cerrado. Os estados de Minas Gerais, Goiás e Bahia concentram 75% dos pivôs em funcionamento no bioma. Imagens de satélite mostram uma concentração desses instrumentos de irrigação em áreas de nascentes de rios. “Por causa de conflitos no uso da água, a produção agrícola precisa ser interrompida em determinados momentos”, diz Jorge Enoch.
A Fazenda Yanoama, na Bacia do Rio Preto, no Distrito Federal, deixou de produzir feijão no ano passado por causa da falta d’água durante o período de seca. Cinco pivôs centrais, conectados ao Rio Cariru, garantem a irrigação das plantações. Nascentes que abastecem o Cariru são encontradas na fazenda, que produz soja, milho e feijão. “Na seca, quando a gente vê que a água não vai dar, a gente deixa de plantar em determinada área de pivô”, afirma o técnico agrícola Cleomar Batista da Silva, 27 anos. “Se a água está pouca, é feito um acordo para segurar o uso.”
Na fazenda de Ricardo Torres, a irrigação mecânica ocorre três vezes por semana, principalmente de maio a setembro — período de seca no DF. “É um equipamento muito viável, que permite plantar o ano inteiro. Só não tem água para todo mundo. Quem tem pivôs em áreas acima da minha encontra muito pouca água.” Ricardo quer fazer, agora, uma barragem no Rio Cariru para ampliar a captação de água, a exemplo do que já fazem outros proprietários rurais da região.