Pouco mais de um mês após a morte do turista francês que caiu do bondinho que liga o centro do Rio de Janeiro ao bairro Santa Teresa, a Secretaria Estadual de Transportes pediu ao Ministério Público do Estado (MP-RJ) que proíba a viagem de passageiros no estribo. Charles Pierson, de 24 anos, viajava em pé e se desequilibrou quando o bonde passava sobre os Arcos da Lapa, a 17,6 metros de altura. A prática, comum, principalmente entre os cariocas, pode ser proibida pela primeira vez em 115 anos.
"É uma tradição e é mais gostoso, não só porque é de graça, mas a sensação é melhor", disse o ator Rogério Castro, de 26 anos, que mora na Lapa e usa o bonde diariamente para chegar ao trabalho, em Santa Teresa. A passagem custa R$ 0,60, mas para quem pega carona ao longo da viagem, em pé nos estribos (degraus), é de graça.
Mudar um costume dos passageiros, no entanto, será somente um dos desafios da Secretaria. Durante reunião no MP-RJ, em 21 de julho, o secretário de Transportes, Júlio Lopes, propôs a elaboração de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para a instalação de estribos retráteis.
"Se está representando risco, não pode continuar. No entanto, o bonde é um bem tombado, então solicitei à secretaria a elaboração de um estudo técnico para mostrar se a alteração vai interferir ou não no tombamento", disse o promotor Carlos Andresano. Uma nova reunião será realizada na terça-feira, 9, e o promotor espera receber o resultado do estudo.
O tombamento dos bondes de Santa Teresa, feito em 1988 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), inclui todo o sistema de transporte, trilhos, mecanismos e acessórios ligados ao funcionamento, e até mesmo garagem e oficina, no Largo dos Guimarães.