Não é preciso muito para perceber que o aposentado Francisco Alexandre Zerlottini, de 65 anos, tem mesmo bons motivos para reclamar: uma rápida caminhada pela Rua Diamantina , no Bairro Lagoinha, Região Nordeste de Belo Horizonte, revela calçadas apertadas, com passeios esburacados e mal conservados, além de motos e carros estacionados num local que deveria servir para os pedestres passarem. Queixa que o levou a procurar, sem sucesso, o atendimento ao cidadão da prefeitura. Sem conseguir nenhuma resposta satisfatória, o aposentado decidiu acessar o site Reclame Aqui, no último dia 8 de setembro, e registrar publicamente sua indignação com a administração da cidade, que ele acusa de omissão.
Todas essas reclamações postadas contra as três prefeituras seguem sem nenhuma resposta, o que torna o atendimento oferecido por elas um serviço "não recomendado", de acordo com a classificação automática que é gerada pelo Reclame Aqui. Esse selo significa que as empresas e órgãos citados pelos usuários não prestam um bom serviço segundo critérios como a satisfação do internauta, o tempo das respostas e a média de demandas atendidas.
Importantes aliados dos consumidores e um dos últimos recursos dos cidadãos antes de apelar à Justiça, os sites de reclamação "tiram o sono" dos diretores de grandes e pequenas empresas, ao ranqueá-las segundo o número de queixas feitas pelos internautas e a eficiência do atendimento. Uma publicidade negativa que ninguém quer e que, agora, começa a assombrar também os gestores públicos, que são imbatíveis em pelo menos um quesito: a ausência de respostas – nenhuma das 1,7 mil demandas foi atendida.
Francisco Zerlottini conheceu o Reclame Aqui através de uma indicação de seu filho. O aposentado procurou o portal para resolver seus problemas com as ruas do bairro depois de obter sucesso seguindo o mesmo caminho para solucionar uma pendência com a empresa fabricante de seu celular, que não atendia suas reclamações no Serviço de Atendimento ao Cliente (SAC).
"Já liguei incontáveis vezes para o 'BH não resolve' , também já mandei e-mail para a Regional Nordeste e nada. Eles me perguntam onde estão os buracos, mas até hoje não se dignaram a vir aqui para ver que eles estão nos passeios da rua inteira", relatou o aposentado, justificando sua opção pelo Reclame Aqui. "Eu já tentei de tudo, mas eles não estão nem aí, fico falando com as paredes", completou.
Apesar da tentativa, o aposentado não teve o mesmo sucesso na web questionando os serviços públicos que conseguiu com as empresas particulares. Até o fechamento desta reportagem, a PBH não havia respondido a demanda de Zerlottini, nem nenhuma outra das 73 que "mofam" aguardando uma resposta no portal.
Em nota, a Prefeitura de Belo Horizonte informou que "possui uma equipe responsável pela leitura de cada uma das sugestões e reclamações, por meio de redes sociais, de cada cidadão e encaminha cada uma delas para o setor responsável para que as providências sejam tomadas", mas não citou o caso específico do Reclame Aqui.
Relembre!
Em matéria publicada no Estado de Minas, no último dia 15 de setembro, a reportagem do Informátic@ testou o atendimento dos órgãos públicos mineiros pelas redes sociais e não conseguiu resposta para uma questão simples . Na ocasião, Jaynne Menezes Tavares, gerente de edição eletrônica da PBH, explicou que o ideal é que as solicitações sejam feitas pelo BH Resolve, o telefone 156 e o SAC web, serviços de atendimento onde é gerado um número de protocolo, que permite ao cidadão acompanhar o andamento da sua demanda.
Respostas seguirão em branco
Raras, as respostas de prefeituras no Reclame Aqui não aparecerão mais. Através de sua assessoria de comunicação, o grupo responsável pela administração do portal informou que não cadastra mais segmentos públicos e justificou que "o serviço foi abolido" porque estes órgãos "não apresentam relação de consumo". Um desperdício, quando considerado o índice de solução das demandas apresentado pelo site: 72%, com tempo médio de dois dias para a resposta.
Mini-entrevista: palavra do especialista
Em entrevista ao Estado de Minas, o advogado Breno Venâncio Romanini, especialista em direito do consumidor, destacou a importância dos sites de reclamação como instrumento de pressão e lembrou que não é a existência de uma "relação de consumo" que deve guiar o cidadão ao cobrar seus direitos. Confira a entrevista completa.