Centenas de pessoas acompanharam nessa segunda-feira o enterro do cinegrafista da TV Bandeirantes Gelson Domingos, às 14h, no Memorial do Carmo, no Caju, Zona Norte do Rio. Ele foi morto no domingo, durante uma operação policial na Favela de Antares, Zona Oeste carioca. A esposa do cinegrafista, Edilene Domingos, pediu aos repórteres que não fizessem imagens do corpo do marido. “É um pedido dele. Ele queria fazer a notícia e nunca virar uma, sempre preferiu ficar atrás das câmeras”, revelou. O irmão, Paulo Domingos, disse que o cinegrafista morreu fazendo o que mais gostava. “Tenho muito orgulho do trabalho de Gelson. Lamento ele ser mais uma vítima da violência no Rio”, afirmou. Ele foi atingido por um tiro de fuzil, mesmo usando um colete à prova de balas.
Nessa segunda-feira, a Polícia Civil prendeu outros dois suspeitos de participação no tiroteio: Márcio dos Santos Cruz, o Longa, de 23 anos; e Clayton da Silva Ignácio, de 20, que carregavam 400 papelotes de cocaína e uma pistola .40. Nove pessoas que haviam sido detidas no dia do crime foram apresentadas na parte da manhã pela Divisão de Homicídios (DH) da Policia Civil: Renato José Soares, o BBC, de 39 anos, gerente da venda de drogas na comunidade, já condenado por tráfico; Leandro Ferreira de Araújo, o China, de 30 anos, braço direito de BBC, com passagens por porte de armas e drogas; Rodrigo Feliciano Raimundo, de 24 anos, com acusações por porte de armas, roubo e falsidade ideológica; e André Cassiano Carneiro dos Santos, de 22 anos, com passagem por tráfico de drogas. Também foram presos Vinicius William da Silva Lopes , de 20 anos; Victor dos Santos Pires, de 19; Tiago da Silva Leite, de 22; Jeferson da Silva Ferreira, 20; e o menor de idade P.F.C., de 15 anos, todos sem antecedentes criminais.
Confira as imagens feitas por Gelson no momento em que ele é atingido.
Com eles foram encontrados um fuzil AR-15, três pistolas, quatro carregadores de fuzil e três de pistola, cinco rádiotransmissores, além de um quilo de maconha e mais 1,5 mil trouxinhas da droga, 2 mil papelotes de cocaína e cem pedras de crack. A polícia ainda aprendeu R$ 3,1 mil em dinheiro, 10 motocicletas e um celular.
Outras quatro pessoas foram mortas durante os confrontos: Tafarel Simões da Silva, de 20 anos, que já tinha passagem pela polícia por tráfico de drogas; Maxsuam Gomes da Rocha, de 20 anos, acusado por porte de armas, tráfico e furto; e Antônio Carlos Ferreira Neto, de 18 anos, que respondeu por tentativa de homicídio quando menor de idade, além de Jorge Ricardo dos Santos, 22 anos, sem antecedentes.
O delegado da DH, Felipe Ettore, disse que a bala de fuzil que atingiu o cinegrafista atravessou o corpo dele e não foi encontrada. O policial não descarta a possibilidade de que o autor do disparo possa estar entre os mortos ou entre os presos. Para o delegado, as imagens cedidas pela TV Bandeirantes, feitas pelo cinegrafista, podem ajudar a identificar o assassino. Os vídeos gravados foram encaminhados ao Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE). “Todo o armamento, todo o material que foi recolhido será analisado juntamente com as imagens da TV Bandeirantes”, disse.
Policiamento reforçado A Polícia Militar reforçou o patrulhamento no local. A favela está ocupada por homens do Batalhão de Operações Especiais (Bope), do Batalhão de Choque e do 2º Comando de Policiamento de Área (2º CPA). No entanto, na manhã de ontem o clima era tenso na comunidade. Segundo PMs de plantão no Destacamento de Policiamento Ostensivo (DPO) da região, dois dos quatro suspeitos mortos no domingo estavam sendo velados no aglomerado.
A TV Bandeirantes, por meio de nota, rebateu o Sindicato dos Jornalistas do Rio, que acusou a emissora de não dar segurança aos funcionários. Conforme a empresa, os cinegrafistas participam de curso sobre posicionamento em áreas de risco. Além disso, é oferecido seguro de vida diferenciado a quem atua em locais perigosos.
A organização Repórteres sem Fronteiras também criticou duramente a forma de trabalho da polícia brasileira, ressaltando que as operações midiáticas, “cada vez mais frequentes à medida que se aproximam a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, acabam criando riscos para os jornalistas enviados às favelas”.
* Com Agências