Os brasilienses que enfrentam problemas e amargam prejuízos com as constantes faltas de energia elétrica no Distrito Federal passaram a viver um drama ainda maior com a greve dos trabalhadores da Companhia Energética de Brasília (CEB), que começou no último dia 3. Diante do impasse entre trabalhadores e a estatal, os mais afetados são os consumidores que, em alguns casos, ficaram sem luz por até 50 horas durante a última semana. Em assembleia realizada ontem, a categoria decidiu permanecer de braços cruzados.
O Correio visitou três regiões administrativas — a Asa Sul, o Lago Sul e o Riacho Fundo — e em todas as localidades os moradores demonstraram indignação com o descaso da CEB para resolver os casos de falta de luz. No Condomínio do Lago Sul, localizado na QI 31, além da interrupção no fornecimento de energia por mais de dois dias, as 108 casas também ficaram sem água. Isso ocorreu porque os recursos hídricos do local são coletados de poços artesianos com bombas de sucção. Sem eletricidade, um dos três reservatórios, com capacidade para armazenar até 80 mil litros, secou.
Segundo a síndica do condomínio, Terezinha Josefina Segabinazzi de Freitas, mais de 60 ligações foram feitas para a CEB e pelo menos 25 protocolos foram gerados. Apesar da pressão feita pelos moradores, a falta de fornecimento de eletricidade, que começou na última terça-feira, só foi resolvida na quinta. “O técnico da companhia disse que um fusível queimado na rede de alta tensão gerou o problema. Todo o condomínio ficou sem água para as pessoas cozinharem ou tomarem banho. Até entendo os grevistas, mas a direção da companhia precisa contratar outros prestadores de serviços”, completou.
Em um escritório de advocacia, localizado no Setor de Administração Federal Sul (SAFS), que fica atrás dos anexos dos ministérios, um gerador de energia precisou ser alugado para não prejudicar os trabalhos. Segundo o gerente administrativo da empresa, Ângelo Almeida de Carvalho, a falta de energia durou 33 horas — começou na quarta-feira, às 8h10, e só acabou na quinta, às 17h30. “Gastamos R$ 5,6 mil para contratar esse gerador. Temos um contrato com a CEB e estamos estudando como ser ressarcidos”, ressaltou.
No Riacho Fundo, os moradores também enfrentaram apagões durante a semana. A servidora pública Michele de Oliveira, 31 anos, que reside na QN 7, diz que ficou sem energia na quarta e na quinta-feira, por 26 horas. “O meu portão eletrônico parou de funcionar. É um transtorno muito grande. Agora, vou ter de tirar dinheiro do bolso para arcar com esse prejuízo”, disse. Segundo ela, o técnico chamado para consertar o portão disse que o problema foi ocasionado pelo blecaute. Ela também solicitou ajuda da CEB e recebeu como resposta que os profissionais estavam em greve e nada poderia ser feito.
Pendência
A CEB estima que mais de mil solicitações dos consumidores estão pendentes devido à paralisação. Um funcionário da empresa, que preferiu não se identificar, diz que até mesmo quando as falhas são graves, as equipes levam de 6 a 8 horas para chegar ao local. Os grevistas estariam impedindo a entrada de pessoas na empresa. A assessoria da companhia informa que o atendimento prioritário é voltado para situações que envolvem postes caídos, cabos partidos e transformadores queimados. Já o Sindicato dos Urbanitários garante que estão sendo priorizados a área do aeroporto, o Corpo de Bombeiros e os hospitais.
Tentativa de acordo
Há chance de todo o transtorno ter fim na próxima segunda-feira, às 17h30, quando representantes da empresa e do sindicato se reunirão diante de um juiz do Tribunal Regional do Trabalho (TRT). O pedido foi feito pela empresa, que considera o movimento grevista como irregular. Após a assembleia de ontem, Geová Pereira, diretor do Sindicato dos Urbanitários no DF (Stiu), que representa a categoria, disse que a proposta da CEB não apresentava nenhuma melhoria além de um aumento de R$ 2 mil no abono salarial, que continua sendo insatisfatório diante do que desejam os trabalhadores. “Por mim, pelo sindicato, a gente já tinha aceitado. Mas ninguém quis, nós fomos derrotados. Foi isso que aconteceu. A gente acha que do jeito que está, essa oferta não vai melhorar”, esbraveja.
É preciso reclamar
Os prejuízos causados pela queda de energia ou pela forte oscilação da rede quando a fase é restabelecida são inúmeros. A perda de alimentos ou a queima de itens eletrônicos são os problemas mais comuns. Para enfrentar este tipo de situação e rever o dinheiro investido, Tatiana Viola de Queiroz, advogada da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste) dá algumas dicas. “Em primeiro lugar, o consumidor deve procurar a empresa e formalizar a reclamação, pedindo ressarcimento em um prazo de até 90 dias a contar da ocorrência do dano”, diz.
Esta solicitação de reembolso pode ser feita por telefone, nos postos de atendimento da CEB ou pela internet. “É preciso informar a data e o horário prováveis da ocorrência do dano; dizer quem é o titular da residência; relatar o problema e descrever as características gerais do equipamento, como marca e modelo”, completa a advogada. O prazo para a distribuidora verificar a autenticidade dos fatos e a gravidade da queixa é de 10 dias, contados após a solicitação.
Se o produto afetado for essencial, como geladeiras e freezers, seja para o armazenamento de alimentos ou de medicamentos, a vistoria deve ser feita em um dia. “Também é possível pedir o ressarcimento desses produtos estragados”, ressalta Tatiana Queiroz. A distribuidora pode solicitar do consumidor laudos e orçamentos, sem que isso represente compromisso em ressarcir. E deve informar o resultado da solicitação, por escrito, em até 15 dias. “O ressarcimento do aparelho ou a troca deve ser feita em até 20 dias, mas, caso o problema não seja resolvido, o consumidor deve recorrer aos órgãos de defesa do consumidor”, acrescenta.