A Favela da Rocinha amanheceu isolada pela megaoperação do governo do estado do Rio para expulsar o tráfico de drogas. Do espaço aéreo ao tráfego de carros, tudo foi fechado para a ocupação, que começou por volta de 4h deste domingo. O trânsito nas principais vias de acesso foi interrompido ainda de madrugada. Os ônibus que passam por dentro e nos arredores foram orientados a desviar o percurso e os moradores que quiserem usar o transporte coletivo terão que caminhar até pontos temporários, estabelecidos depois da área bloqueada. O morro do Vidigal também está sendo ocupado nesta megaoperação.
O espaço aéreo sobre a comunidade foi fechado desde a 0h e até os voos de asa delta que partem da Pedra Bonita, vizinha à comunidade, foram suspensos. Apenas helicópteros das polícias Militar e Civil poderão sobrevoar o local. A operação conta ainda com bloqueios da Polícia Rodoviária Federal nas principais saídas do Rio e um hospital de campanha, com seis leitos, montado pelo Corpo de Bombeiros na quadra da escola de samba da comunidade.
Além de policiais do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) e do Batalhão de Choque, a operação, batizada de Choque de Paz, tem o apoio dos agentes das polícias Civil, Federal e Federal Rodoviária. A operação conta com 18 blindados, 7 helicópteros e cerca de 3 mil de policiais vai instalar a 19ª Unidade de Polícia Pacificadora.
A ocupação conta com 18 blindados da Marinha – um a menos que na tomada do Complexo do Alemão, em novembro. Os veículos já estão à disposição do governo carioca e darão apoio logístico à tropa, levando policiais para dentro da favela. No entanto, o cerco será feito pelos policiais. Além dos blindados, a Marinha cedeu 19 oficiais e 175 fuzileiros navais para cuidar do transporte dos veículos e dos policiais.
A Força Aérea participa da ocupação com o fechamento do espaço aéreo. Da 0h às 16h de hoje fica proibida a circulação de aeronaves nas proximidades da favela, em uma área de 2,8 quilômetros de raio e 900 metros de altitude. O Hospital Miguel Couto, na Gávea, vizinho à Rocinha, também reforçou o plantão. A direção vai separar uma sala para receber os possíveis feridos na ocupação.
Desconfiança
No sábado, sob olhares ainda desconfiados, moradores da Rocinha tentavam seguir a rotina. Enquanto alguns estocavam alimentos em casa com medo de a operação durar mais que o esperado, policiais do Batalhão de Choque revistavam veículos e moradores que entravam e deixam a comunidade. “Minha vizinha já estocou alimentos em casa para se prevenir caso o comércio não abra nos próximos dias”, disse à reportagem o estudante de jornalismo Flávio Teixeira, de 25 anos.
Poucos comerciantes optaram em fechar as portas. Receosos em falar com a imprensa, eles não queriam dar entrevista. Segundo moradores, a diferença mais impactante dos últimos dias depois do anúncio da ocupação policial foi o “toque de recolher” a partir das 21h. Bingos, festas em bares e bailes funk foram cancelados desde ontem. “Sou nascido e criado aqui e nunca vi a Rocinha tão quieta. É um silêncio que dói, mas é até bom porque você consegue dormir sem barulho”, afirmou Leandro Lima, de 29. Muito diferente do que se costumava ver, mototaxistas usavam capacete e o comércio informal diminuiu nas imediações da favela. Escolas e cursos locais tiveram as aulas canceladas.