Jornal Estado de Minas

Somente um laudo técnico pode confirmar a versão do motorista de ônibus

Manoela Alcântara Jacqueline Saraiva Roberta Machado Maria Júlia Lledó
Segundo o motorista, que estava com a habilitação vencida, ele perdeu o controle do coletivo após tentar frear: vítimas tinham ido a Aparecida (SP) - Foto: Danilo Verpa/Folhapress)
Um ônibus que transportava 42 pessoas em uma excursão religiosa, se envolveu em um acidente no Km 32 da Rodovia Floriano Rodrigues Pinheiro, no estado de São Paulo. Segundo o motorista do veículo, Izaque Correia de Almeida, por volta das 15h30 de ontem, ele perdeu o freio, bateu em uma mureta e o ônibus acabou tombando. De acordo com a Polícia Rodoviária de São Paulo, o condutor dirigia com a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) vencida. A maioria dos passageiros eram moradores de Santo Antônio do Descoberto (GO), cidade localizada a 47 km de Brasília. Até às 21h, a corporação confirmava 10 mortes.
O trabalho de resgate foi realizado por 11 carros e 25 agentes do Corpo de Bombeiros, que levaram os feridos para hospitais próximos, nas cidades de Taubaté, de Tremembé, de Pindamonhangaba e de Campos do Jordão. Apenas às 18h, os corpos das vítimas foram recolhidos do local. Só então a pista, que ficou completamente interditada por três horas, foi parcialmente liberada. O acidente causou um engarrafamento de quase 4km. A chuva atrapalhou o resgate e o trabalho da perícia.

Ainda não foi constatado se havia problemas mecânicos no veículo, que exibia a logomarca de duas empresas: Jovem Turismo e El Shadai. A polícia enfatizou que somente um laudo técnico pode confirmar a versão do motorista. “Os motivos serão apurados pela perícia. A informação que ele nos passou foi que perdeu o freio”, relatou o agente da Polícia Rodoviária Estadual de São Paulo Robson Abissi.

A viagem já era rotina para o grupo de católicos da cidade. Pelo menos três vezes ao ano, os fiéis iam até Aparecida, passavam por Campos do Jordão e retornavam ao Entorno do DF. Ontem, o grupo de moradores goianos seguiu a mesma rotina. No momento em que o ônibus capotou, eles voltavam de Campos do Jordão rumo ao município goiano. A viagem foi feita em maio deste ano pela mesma empresa.

Apreensão
Em Santo Antônio do Descoberto, parentes e amigos esperavam, desesperados, por notícias. Eles se reuniram na casa de Dercílio Rabelo, um dos organizadores do passeio. De acordo com familiares, ele estava entre as 10 pessoas que morreram em virtude da colisão. Por volta das 20h, dezenas de moradores tentavam montar uma lista com os nomes de todos os que ainda não haviam sido localizados. Eles ligaram para os hospitais na tentativa de cruzar informações.

Para conseguir acompanhar o caso de perto, um homem — parente de uma menina de 3 anos, que morreu devido à colisão — pegou um avião para ir a São Paulo. A esposa e a filha dele também estavam no coletivo, mas passam bem. Outro familiar embarcou ontem rumo ao local do acidente em busca de notícias. “O restante só não foi porque não tinha recursos”, afirmou Poliana Gomes, 24 anos, outra parente de vítimas. Todos alegam que a distribuição das pessoas que estavam no ônibus em diversos hospitais dificultou a busca por informações.

Passeio frequente
Outra mulher, que não quis se identificar, contou que o passeio era feito com frequência . Ela relatou a preocupação de todos os que aguardavam por notícias. “Foi uma tragédia. Santo Antônio do Descoberto está abalada. Eram todos amigos que frequentavam a igreja. Cada casa tem um monte de gente esperando por notícias”, disse.

A esposa de Fábio Pereira, o Fabinho, 32 anos, foi de carro até São Paulo no meio da tarde, logo depois de ser informada sobre o acidente. A filha de 6 anos do casal e os pais de Fábio participavam da excursão. A menina passa bem, mas, quando falou com os pais pelo telefone, chorava muito. Ela não pôde ser acompanhada pelo avô, Valdir Pereira, que precisou ser atendido pelos médicos. A avó, Izabel Maria Pereira, morreu no local. Valdir completou 60 anos no último sábado e Izabel faria 50, em 3 de dezembro. “Acredito na justiça divina, só espero que a dos homens também seja feita”, desabafou Fabinho. A tia dele, Sônia Pereira, 50 anos, também morreu.

A mãe dele foi uma das últimas a entrar no coletivo, acompanhada por Dercílio. Na saída de Santo Antônio do Descoberto, amigos gritaram, em tom de brincadeira: “Cuidado com o ‘mautorista’. Ela respondeu: “Não tem com o que se preocupar, esses meninos aqui são bons”.