Brasília – Outra inundação no Norte fluminense obrigou centenas de famílias a deixarem suas casas na noite de ontem. Três dias após o desmoronamento de um trecho da BR-356, que provocou a inundação do Bairro de Três Vendas, em Campos dos Goytacazes, o rompimento de um dique na cidade vizinha, Cardoso Moreira, fez com que cerca de 900 pessoas tivessem de ser removidas no Distrito de Outeiro. A chuva deu trégua na manhã de sábado mas retornou com força na madrugada de ontem e voltou a deixar alagada 80% de Cardoso Moreira.
O Dique de Pontal, que se rompeu ontem, fica próximo ao trecho da BR-356 que desmoronou. Ele faz a contenção de um canal entre o Rio Muriaé e a Lagoa das Onças. De acordo com o coordenador da Defesa Civil da Região Norte, coronel Moacir Pires, o dique, que fica atrás de uma usina desativada de açúcar, se rompeu devido à força das águas do Muriaé. “Estamos trabalhando contra o tempo. A comunidade está sendo gradativamente inundada e precisamos tirar todas as pessoas antes que a água tome conta da região”, disse.
"Na manhã de sábado, como não estava chovendo, as pessoas começaram a limpar tudo. Esperavam voltar para casa à tarde”, disse o assessor de imprensa da prefeitura de Cardoso, Sidney Damásio. “À noite, começou uma chuva torrencial”, lembrou. A inundação provocada pelo rompimento do Dique de Pontal pode atingir também os distritos de Vermelha, Taquaraçu, Pomba, Boiadeira, São José e Desterro.
ESTIAGEM
Para o Rio Grande do Sul, o clima tem causado problemas por causa da seca que atinge dezenas de cidades. A Associação Rio-Grandense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural estima que as perdas com a seca chegam a R$ 2,8 bilhões. As culturas de milho e de feijão são as mais atingidas. Em algumas lavouras, 90% do milho plantado foi perdido. A produção de soja em cidades gaúchas deve sofrer 25% de perda. No Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, 460 mil e 407 mil pessoas sofrem com a seca, respectivamente. (Com agências)
PALAVRA DE ESPECIALISTA
Problemas de um país continental
Manoel Rangel, eteorologista do Inmet
Quando falamos de Brasil, precisamos levar em conta as dimensões continentais do país, que é uma das causas da variação climática que estamos acompanhando — excesso de chuva a partir da Região Sudeste e seca a partir do oeste da Região Sul. O fenômeno que causa as chuvas no Sudeste chama-se Zona de Convergência do Atlântico Sul. Ele ocorre todos os anos, quando uma frente fria fica estacionada sob o Rio de Janeiro e o Espírito Santo e é alimentada por áreas de instabilidade do Norte do país. Funciona assim: o aglomerado de nuvens da Região Norte se encontra com a frente fria do Sudeste, causando um excesso de chuva. Já a seca na parte Sul brasileira se deve à passagem de massas de ar polares oriundas da Argentina. Elas inibem a formação de nuvens. E, se não há nuvens, não há chuva. A previsão é de que as chuvas diminuam na segunda quinzena do mês em Minas Gerais e se intensifiquem em São Paulo, no Rio de Janeiro, no Paraná, em Mato Grosso, em Mato Grosso do Sul e em Goiás. No Sul, as chuvas esperadas não devem ocorrer nas áreas que sofrem com a seca.