Além Paraíba (MG) e Sapucaia (RJ) – Um tsunami de lama causou mortes e entre moradores de Minas e do Rio de Janeiro. Pelos menos 11 pessoas morreram ontem nos dois estados em decorrência de enchentes e deslizamentos. Enquanto do outro lado da ponte sobre o Rio Paraíba do Sul, no município fluminense de Sapucaia, um desmoronamento soterrava sete casas na Rua dos Barros, no Bairro Jamapará, provocando ao menos oito mortes, o Córrego Limoeiro se levantava em onda de lama de oito metros para devastar Além Paraíba e derrubar barreira que isolou o principal hospital da cidade. Na Vila Santa Rita, um dos pontos mais atingidos pela nova catástrofe na Zona da Mata, o cenário que o Estado de Minas encontrou foi idêntico ao de Guidoval – comparado por homens do Exército experientes em missões internacionais como “um pedaço do Haiti”. Com a tragédia em Além Paraíba, subiu para 15 o número de mortes no estado em decorrência da chuva. Já são 116 cidades municípios em situação de emergência.
Não se sabe ao certo o número de desabrigados. Mas casos tristes não faltam pelas esquinas de Além Paraíba. Uma mulher grávida, funcionária pública, perdeu o bebê por não conseguir chegar ao Hospital São Salvador, com seu único acesso interditado.
Os mortos na madrugada de desespero e dor, até à noite de ontem, são Maria Aparecida Alves, de 32, e o filho, Igor Alves, de 3, e um homem ainda não identificado. Os corpos de mãe e filho aguardavam liberação no necrotério do cemitério municipal. Na delegacia, onde policiais procuravam dar apoio à família, a tia de Maria Aparecida, Eliane da Silva, de 42 – na companhia do marido, José Maria, de 58, lavrador – contou que a sobrinha, sem marido, deixa duas filhas: Letícia, de 6, e Leandra, de 9.
HERÓI
Entre as expressões de tristeza e desespero no cenário de destruição de Além Paraíba, um homem é festejado por um garoto: “Foi ele, moço. Ele quem pulou para salvar uma menina que a correnteza levava”, diz o menino orgulhoso pelo feito de Wellington Luís Melo, de 47, mais conhecido como Magal. “Eram 2h. Minha casa fica em cima da minha oficina. Eu ia me deitar, mas, com toda a movimentação que estava na rua saí para ver, e tudo foi se complicando rapidamente. De repente, a gente começou a ver as pessoas sendo carregadas pelas águas. E tudo muito escuro, não dava para enxergar direito. Aí, eu vi uma criança e não pensei duas vezes. Pulei, não dava pé, mas consegui nadar e tirá-la da água”, emociona-se. O vizinho, sem camisa e todo sujo de lama, que testemunhou o ato heroico de Magal, conta que a água, na parte alta da vila, estava com mais de dois metros.
Do outro lado do Rio Paraíba do Sul, 60 homens da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros do estado do Rio de Janeiro, entre destroços das sete casas de Jamapará, trabalhavam em busca de sobreviventes. O cenário era de dor e desespero. Na beira da pequena via que dá acesso à Rua dos Barros, no Bairro Jamapará, familiares choravam aos menos oito mortos e o número desconhecido de desaparecidos. Vizinhos procuravam oferecer amparo e ajudavam a alimentar esperanças. Os policiais que trabalhavam no resgate isolaram a área para conter o número de curiosos que se agruparam na localidade. Marilda Ribeiro Alves, de 69, subprefeita do 4º Distrito de Sapucaia, moradora do Bairro do Barão, conhecia todos os moradores soterrados e acompanhava de perto a operação. “Até agora já retiraram quatro corpos. Dois adultos e uma criança. É muito triste. Rolou pedra, barro bambu. Desceu foi tudo. Ninguém teve tempo de nada. Eram 4h30 quando tudo aconteceu”, conta Marilda. João Batista Ribeiro, o Garcia, de 60, auxiliava com tristeza o resgate no município do Rio.
Não longe dali, a uma ponte de distância sobre as águas da morte, Além Paraíba também segue a recolher seus destroços. Pelos caminhos de difícil acesso na região afetada, como em Guidoval, com amontoados de móveis, roupas e restos entulhados em frente ao que sobrou das casas, eram muitos os apelos por atenção.