Uma semana depois que Rio Branco decretou situação de emergência devido às fortes chuvas que provocaram um alagamento sem precedentes na história do Acre, o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, sobrevoará hoje as regiões destruídas do estado. O cenário que o espera nos nove municípios prejudicados é grave. Chega a 83,9 mil o número de atingidos pelas cheias, dos quais cerca de 21 mil estão em abrigos públicos. Embora o governo federal tenha enviado ontem 40 homens da Força Nacional e 140 do Exército para ajudar na retirada de moradores isolados, a expectativa é de que a situação piore nos próximos dias em pelos menos três municípios: Rio Branco, Xapuri e Boca do Acre, esse último, no Amazonas.
“Em Brasileia e em Assis Brasil, já tivemos uma vazante. Mas o rio continua se elevando na capital e em Xapuri. Nosso vizinho Boca do Acre sentirá também, porque é onde as águas estão desembocando”, prevê o coronel Oliveira, coordenador da Defesa Civil do estado. A meteorologia prevê mais chuvas para a região nas próximas 48 horas, elevando a tensão da população. Na tarde de ontem, na capital acriana, o Rio Acre não parou de subir, atingindo, na última medição, um recorde:17,51 metros, quase quatro a mais do que o nível de transbordamento, que é de 14 metros. O ritmo de cheia chegou a um centímetro a cada três horas. “Realmente, é algo inédito no estado, mas estamos trabalhando com o governo federal para atender as comunidades prejudicadas”, afirma o coronel Oliveira.
A equipe enviada pelo governo federal soma 72 homens da Força Nacional, 27 profissionais da Força Nacional SUS, três profissionais da Defesa Civil Nacional e os homens do Exército. Há aviões da Força Aérea Brasileira e um navio de assistência hospitalar da Marinha auxiliando os trabalhos. A cheia do Rio Acre e seus afluentes também levaram estragos para as cidades de fronteira Cojiba, na Bolívia, ao lado de Brasileia, e Iñapari, no Peru, vizinha de Assis Brasil. “Os locais estão muitos destruídos, as pessoas não têm água potável, não têm energia. Mas ainda bem que não tivemos mortos, apenas os danos materiais”, conta o padre Rene Salizar, de Iñapari.
Devastação
Do lado brasileiro da fronteira, o cenário também é crítico. Em Brasileia, que teve 95% da área urbana tomada pelas águas, 6 mil pessoas estão desabrigadas, o que corresponde a 45% da população, pelo cálculos do governo. Onze bairros de Rio Branco estão sem energia elétrica, devido a um desligamento voluntário da companhia para garantir a segurança das pessoas. O prejuízo econômico, só na capital, foi estimado em R$ 12 milhões. Kits contendo insumos e medicamentos estão sendo distribuídos pelas equipes da Força Nacional do SUS e por agentes de saúde locais. São três os grupos que mais preocupam no momento. Os idosos, pela fragilidade física; as comunidades ribeirinhas, devido ao isolamento; e os indígenas, que tendem a adoecer com mais facilidade nessas condições.
Medições
Antes desse recorde, a maior marca atingida pelo Rio Acre foi em 1977, quando chegou a 17,66 metros na capital do estado, desde o início das medições, em 1970. A inundação, considerada até então a pior ocorrida no Acre, acabou sendo superada pela situação atual, principalmente devido ao número de atingidos. Naquela época, a capital acriana tinha menos de 200 mil habitantes. Hoje, são cerca de 500 mil.