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Estado de Minas

Pesquisas na estação brasileira na Antártida vão recomeçar do zero e sem verba garantida

Estudos nas áreas remotas já estão comprometidos: viagem de pesquisadores mineiros que estava marcada para abril foi cancelada


postado em 28/02/2012 07:53 / atualizado em 28/02/2012 18:25


O incêndio na Estação Antártica Comandante Ferraz vai comprometer, nos próximos dois anos, os projetos de pesquisa desenvolvidos pelas universidades federais de Viçosa (UFV) e de Minas Gerais (UFMG). A informação é do coordenador do Núcleo Terrantar da UFV, professor Carlos Ernesto Schaefer, de 47 anos, que chegou há um mês do continente depois de passar dezembro e janeiro num acampamento, com sua equipe, envolvido nos estudos sobre monitoramento do clima e dos solos. Embora o local dos trabalhos científicos seja distante da base brasileira, houve muitos prejuízos.

“Comandante Ferraz é o centro das operações brasileiras e tínhamos lá muitos equipamentos. Além disso, o navio oceanográfico Almirante Maximiano, da Marinha, e que dá apoio aos pesquisadores, estará totalmente envolvido na reconstrução da estação”, disse o coordenador que atua na região mais fria do planeta há 10 anos. Há dúvidas também em relação ao prazo para reconstrução já que a partir de abril, a baía onde ficava a estação começa a ficar congelada, dificultando os estudos de impacto.

Oito cientistas brasileiros continuam na Antártida e têm data de retorno incerta ao país. Os pesquisadores, da Universidade do Vale do Rio Sinos (Unisinos) e da Unipampa, no Rio Grande do Sul, estão acampados desde o começo do mês na Ilha Elefante (a norte da ilha Rei George), onde o Brasil mantém um refúgio de pesquisas. Segundo Virgínia Petry, da Unisinos, coordenadora de um dos grupos, o retorno dos pesquisadores estava inicialmente previsto para 12 de março. Agora eles deverão ser recolhidos pelo Almirante Maximiano, o navio polar que se encaminha do sul do Chile para a estação Comandante Ferraz para fazer o rescaldo do incêndio que destruiu o complexo, no sábado.

Indenização O prejuízo para os projetos da UFV, que têm recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), atinge cerca de R$ 350 mil. Com o fogo, foram perdidos equipamentos eletrônicos sofisticados como radar de solo, dataloggers (equipamento para medir temperatura e umidade do material coletado), antena de radar, aparelho de emissão de gás carbônicos e outros. “Todos eles são muito caros”, lamenta, o professor, destacando que, no total, há 10 teses de doutorados e dissertações de mestrado, de pós-graduandos mineiros em desenvolvimento na Antártida. Nesse total, estão incluídos estudos da UFMG e da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam).

Enviado pela Marinha a Punta Arenas, na Patagônia chilena, para coordenador o resgate dos brasileiros que escaparam do incêndio, o contra-almirante Marcos José de Carvalho Ferreira disse aos pesquisadores que o governo pretende indenizá-los, cada um deles, com R$ 10 mil pelas perdas pessoais. A quantia indenizatória não incluiu valores referentes às pesquisas que vinham sendo desenvolvidas. De acordo com o contra-almirante, a proposta e o valor da indenização serão encaminhados à apreciação do Congresso Nacional, por intermédio da Frente Parlamentar de Apoio ao Programa Antártico Brasileiro (Proantar). Não há prazo nem para a votação do pedido nem para o pagamento.

Primeiros impactos Além dos prejuízos materiais e da perda de duas vidas, os impactos já começam a ser sentidos pela UFV. “Uma equipe que seguiria mês que vem já teve a viagem cancelada. Pelo menos uma tese de doutorado ficará prejudicada”, adiantou. Para Schaefer, chefe de uma equipe de 16 mineiros na Antártida, cinco dos quais atuando em Comandante Ferraz – e que retornaram no mês passado –, o incêndio na estação brasileira foi uma surpresa, tendo em vista que havia manutenção e segurança.

Minas se tornou referência internacional nas pesquisas de solo do continente com maior reserva de água doce do planeta graças ao trabalho da equipe da UFV, que tem o câmpus em Viçosa, na Zona da Mata, a 230 quilômetros de Belo Horizonte. Depois de uma década de projetos, com atividades de campo e laboratório, o grupo de cientistas garantiu à instituição conhecimento suficiente para formar o maior banco de dados sobre a chamada Antártica Marítima, que reúne ilhas e a península. Os olhos do mundo estão voltados especialmente para essa área, onde a temperatura subiu 2,5 graus em mais de 20 anos, com o ritmo mais acelerado de degelo. Os resultados das expedições são muitos, alguns pioneiros, com destaque para o mapeamento da região, considerada a mais importante para análises sobre mudanças climáticas.

Na Universidade de São Paulo (USP), os pesquisadores também lamentam a situação. Trabalhando desde 1988 na Antártida, em sucessivas expedições, a professora Rosalinda Montone conta que ficou “chocada”. O pior, disse ontem, foi a perda de vidas humanas, e, agora, “teremos que unir forças para manter os trabalhos de pesquisa, mesmo com perda de 70% da estação. Será preciso recomeçar quase do zero”, diz Rosalinda. A veterinária mineira Ângela Pessanha, que trabalhou em acampamento em 2005, 2006 e 2008, em projeto da Fundação Universidade do Rio Grande (Furg) sofreu com o incêndio, mas está certa de que a estação vai se reerguer. A UFMG também participa das missões à Antártica, realizadas sempre de dezembro a março, quando as temperaturas de verão ficam na casa de dois graus. A equipe coordenada pelo professor Andrés Zarankin vem integrando a expedição internacional Paisagens em branco, na Ilha Livingstone, no Arquipélago Shetland do Sul, a 120 quilômetros da Península Antártica.

Especial Missão Antártica

Acompanhe o especial sobre a Antártica, resultado da primeira série de reportagem convergente produzida pelos Diários Associados, a Missão Antártica. Os jornalistas Patrícia Aranha e Leandro Neves foram enviados ao continente gelado e fizeram diversas reportagens exclusivas. A equipe mostra descobertas sobre o passado do planeta, o aquecimento global e enigmas do futuro, acompanhando os estudantes da Universidade Federal de Viçosa que pesquisam a região.

O programa destaca a travessia da Passagem de Drake, no navio Ary Rongel; revela territórios como a Ilha do Elefante e apresenta a Estação Antártica Comandante Ferraz. E mais: o papel de destaque da mulher brasileira no comando das estações e postos de pesquisa, curiosidades da fauna do continente gelado.

Vídeo-Parte 1

Vídeo-Parte 2

Vídeo-Parte 3


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