A ação ocorre após a adolescente Gabriella Nichimura, de 14 anos ter morrido na última sexta-feira após cair do "elevador" chamado La Tour Eiffel. Segundo depoimentos, fotografias e uma terceira perícia realizada no parque na tarde desta quarta-feira a menina teria se sentado em uma cadeira que deveria estar inoperante.
Não foram definidos número ou quais atrações passarão por perícia, mas segundo informou o advogado do parque, Alberto Zacharias Toron, os brinquedos com sistema eletromecânico devem ser os mais visados. "A diretoria do parque concordou prontamente porque tem plena consciência da correção dos seus procedimentos", afirmou o advogado.
A promotora da área do consumidor, Ana Beatriz Sampaio Silva Vieira, não descartou a possibilidade de interdição do parque. Segundo ela, porém, isso só ocorrerá caso o resultado da perícia aponte para insegurança ao visitante. "Vamos ouvir outras pessoas e aguardar o laudo da perícia. Se ficar comprovado que o brinquedo (La Tour Eiffel) era inseguro, peço interdição do brinquedo. Se isso se mostrar em relação a outros brinquedos, posso eventualmente pedir a interdição do parque", afirmou a promotora.
Por meio de nota enviada pela assessoria, o Hopi Hari reafirmou seu interesse na elucidação do caso e o compromisso com a segurança de todos os visitantes.
Depoimento - Nesta quinta-feira, o gerente geral responsável pela manutenção do parque Hopi Hari prestou e, segundo informou o delegado de Vinhedo, Álvaro Santucci Noventa Júnior, recebeu com surpresa a notícia de que a cadeira inoperante na qual sentou Gabriella teria sido usada. "Ele disse que ficou surpreso como nós porque sequer sabia que aquela cadeira havia sido utilizada", afirmou Noventa Júnior.
Esta foi a segunda vez que o engenheiro suíço, cujo nome não foi divulgado nem pela polícia, nem pela Promotoria e nem pelo parque, depôs. Na terça-feira, o funcionário disse que seria impossível ter ocorrido uma falha mecânica no equipamento.
Para a polícia e a Promotoria, o depoimento desta quinta-feira reforçou a tese de falha humana. "O Hopi Hari não contesta o que foi descoberto. A investigação agora ganha contornos mais complexos, porque faltou vigilância, uma vez que aquela cadeira jamais deveria ter sido usada", completou o promotor Rogério Sanches.
O gerente não quis dar entrevista. Segundo o promotor, ele explicou em depoimento que a cadeira estava inutilizada havia ao menos dez anos. O motivo seria a localização do assento. Se uma pessoa com compleição física maior sentasse ali, poderia esbarrar as pernas em estrutura metálica existente para dar à atração os traços da Torre Eiffel. A cadeira não possuía, porém, nenhum aviso.
O advogado Alberto Toron acompanhou o depoimento e disse que o Hopi Hari, diante da revelação, afirmou que houve um erro. "Agora é preciso descobrir de quem foi a falha na manutenção, que levou ao desbloqueio da cadeira, e no atendimento ao público por permissão para uso daquela cadeira", disse o advogado. "Vamos colaborar com as investigações", reafirmou.
Segundo informações técnicas dadas pelo profissional do parque à polícia e à Promotoria, a trava de segurança usada pelos visitantes existia também na cadeira inoperante. Ali, ela permanecia abaixada e ficava fechada permanentemente. Naquela cadeira, um cinto usado como segundo dispositivo de segurança inexistia. O cinto foi exigência do fabricante (suíço) em 2003. "Mas ao menos desde 2002 a cadeira não funcionava. Acreditando que a cadeira não seria utilizada, o parque não colocou o cinto naquele assento", disse o promotor.
A Torre Eiffel possui cinco conjuntos com quatro cadeiras em cada um. Dois estão desativados. A cadeira do setor 3, no qual estava Gabriella, também estava inoperante. "Ninguém nesses dez anos se sentou na cadeira porque havia um travamento no colete e isso por si só impedia que alguém sentasse", explicou o advogado do parque. "A verdadeira questão é saber quem liberou a trava."
Em depoimento dado ao delegado e aos dois promotores, dois funcionários de operação do brinquedo disseram hoje que sabiam da inoperância do assento. De acordo com o titular da Delegacia de Vinhedo, o operador Vitor Igor Espinucci de Oliveira, de 24 anos, disse ter checado as travas de todas as cadeiras 15 minutos antes do brinquedo começar a funcionar. Ao perceber que a trava da cadeira usada por Gabriella estava solta, teria avisado um superior. O advogado Bichir Ale Bichir Júnior, representante dos dois funcionários, informou que Vitor não recebeu resposta do superior.
Vitor e Marcos Antônio Tomás Leal, de 18, que também compareceu à delegacia, disseram que a responsabilidade de checar cada setor de cadeiras ficou para outros operadores. "O fato (de Gabriella estar em uma cadeira inoperante) teria passado despercebido pelos operadores", afirmou o delegado.
Em fotografia divulgada pela família, dois funcionários do parque estão próximos ao conjunto de cadeiras em que os Nichimura estão sentados. Em depoimento prestado na delegacia hoje, a mãe da menina, Silmara, disse que ouviu de um funcionário que não havia problema o fato de a cadeira de Gabriella não ter o cinto. Os outros três operadores que estavam no brinquedo neste dia serão ouvidos pela polícia. "Em uma investigação de alto padrão levantamos antes todas as informações e deixamos para o final os suspeitos", afirmou o promotor. O advogado do parque disse desconhecer a imagem.