"Se realmente ocorreu apenas a leitura é um ato muito falho da direção do parque. De quem está hierarquicamente acima deles e até mesmo da direção, se sabia disso", afirmou Noventa Júnior. "Então, não vai se limitar aos operadores a responsabilidade. A gente vai, na hierarquia, chegar até quem teve o dever de zelar pela integridade dos usuários do parque", disse. O delegado informou que vai ouvir os outros três operadores do brinquedo amanhã e, se necessário, outros funcionários, para confirmar se não havia um curso mais aprofundado para operar os equipamentos.
O advogado do parque, Alberto Toron, reafirmou que o treinamento dos funcionários tem três fases, incluindo uma de campo. "O treinamento não se resumia à simples leitura do manual. Tinha três fases, sendo que a terceira era em campo, ao lado de funcionários mais experientes", afirmou. "Quem faltou com dever de cuidado faltou em relação a algo muito simples. Portanto, vamos aguardar a continuidade das apurações e confiamos no juízo prudente do delegado de polícia", completou.
O brinquedo é uma torre com cinco conjuntos com quatro cadeiras cada um. Dois deles estão interditados. A cadeira do setor 3 na qual Gabriella sentou-se estava inoperante havia ao menos dez anos. O parque explica que o assento não era usado pois se um visitante com maior estatura se sentasse ali poderia esbarrar os pés em estrutura metálica usada para dar ao brinquedo o formato da Torre Eiffel.
Acareação
Marcos Leal não deu entrevista, assim como Vitor Oliveira. O advogado de ambos, Bichir Ale Bichir Júnior, disse que seu cliente contou ao delegado que 15 minutos antes da abertura dos portões do parque teria notado que a trava da cadeira inoperante estava solta. O rapaz teria avisado Oliveira. Segundo Leal, o colega teria avisado a um superior. Porém, em seu depoimento, Vitor Oliveira disse ter acionado uma colega chamada Amanda que entrou em contato com o atendente sênior Lucas Martins. A ele, a funcionária teria dito que a cadeira travada do setor 3 estava abrindo, o que permitia que alguém sentasse ali. "Prossegue que estou acionando a manutenção", teria respondido Martins, conforme depoimento do primeiro operador.
No momento do acidente, quem operava o setor 3, segundo informações dos dois depoimentos, era um funcionário chamado Edson. Os sobrenomes de Amanda e Edson não foram divulgados. A reportagem não localizou Lucas Martins. Em depoimento dado na semana passada, a mãe de Gabriella, Silmara, disse ter questionado o fato da cadeira da filha não possuir um cinto de segurança ligando a trava ao banco e ter ouvido de algum funcionário: "o brinquedo é seguro". A família apresentou uma fotografia ao delegado. Na imagem, Marcos Leal está à frente do conjunto de cadeiras ocupadas pela família Nichimura. Ao lado do setor aparece Edson.
O advogado Bichir Ale Bichir Júnior informou que Leal estava em movimento no momento da fotografia e que seus clientes operavam os setores 2 e 4. O delegado disse que vai ouvir Edson, bem como duas outras operadores e o atendente sênior. "Os dois ouvidos até o momento se eximem de terem respondido à mãe. É importante chegar aos outros operadores. Se for necessário, marcaremos uma audiência de acareação".