Segundo o cardiologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Henrique Godoy, que se dedica ao estudo da conexão da gripe com doenças do coração, a insuficiência cardíaca é a causa principal de internação em muitos países, tendo 20% mais casos no inverno. Isso ocorre porque algumas doenças – entre elas as cardiovasculares como insuficiência cardíaca, infarto e AVC; e pulmonares como asma, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e pneumonia – têm padrão sazonal e agravamento no período de temperaturas mais baixas, no qual também se concentram os casos de gripe, já que o clima frio e seco favorece o vírus.
Um estudo americano revelou que de 1977 a 2009, o número de mortes indiretas por complicações da gripe cresceu 400%. O envelhecimento da população é uma das causas, mas as comorbidades também afetam. Gestantes, obesos, pacientes com doenças crônicas, principalmente as cardíacas e que afetam o sistema imunológico, também ficam mais vulneráveis. “O risco de um portador de doença cardíaca falecer por gripe é 66% maior que o do paciente sem comorbidade, assim como o de DPOC tem 78% mais risco e o diabético, 8%”, alerta Godoy.
“A gripe, já está comprovado, descompensa essas doenças. Isso ocorre porque ela tem uma relação direta com a artéria do coração. Um infarto ou derrame, por exemplo, é causado quando uma placa de colesterol comprime o endotélio, a membrana que reveste a parede do vaso, até que esse forme um coágulo, ou trombo, obstruindo a artéria. O problema é que o vírus da gripe acelera esses três processos – o aumento da placa de colesterol, o rompimento da membrana e a formação do trombo. A chance de infarto é cinco vezes aumentada durante a gripe e o risco permanence elevado por até 90 dias”.
CUIDADOS Antivirais não mudam em nada o quadro. Segundo o especialista, esses doentes crônicos, em caso de gripe, devem sim procurar seus cardiologistas. Mas a principal ação deve vir antes, afinal, todo esse quadro é prevenível por vacina. “O que adianta mesmo é a vacinação. A imunização contra a gripe reduz 50% dos óbitos por doenças cardiovasculares. A Sociedade Brasileira de Cardiologia recomenda a vacinação contra gripe assim como sugere cuidados com a hipertensão e diabetes. A prevenção é eficaz.”
Mas a população de risco não tem aproveitado a chance. Segundo Isabella Ballalai, diretora da Associação Brasileira de Imunizações – Regional Rio de Janeiro, que defende a vacinação universal, de toda a população, a meta de vacinar pelo menos 80% do grupo com direito gratuito à dose não tem sido alcançada, ficando em torno dos 60%. Uma pesquisa revelou que a maioria das pessoas deixa de tomar a vacina por se considerar saudável, acreditar que não precisa e julgar existir pouca vacina. Custo e medo de efeitos colaterais, portanto, não estão entre as principais desculpas.
Na rede particular, o preço da vacina varia de R$ 60 a R$ 80. Além disso, os efeitos colaterais são cada vez menores. Segundo Lúcia Bricks, diretora de saúde pública da Sanofi Pasteur Brasil, só crianças com menos de 6 meses e pessoas extremamente alérgicas a ovo não podem tomar a vacina. Mas as grávidas, ao se vacinarem, protegem os futuros bebês.
Mutação
Por serem os vírus mutantes, as vacinas são atualizadas anualmente a partir de recomendações da OMS. Em 2012, estará disponível a vacina trivalente contra as cepas H1N1, H3N2 e Influenza B, que foram os tipos de vírus da gripe mais comuns no inverno do Hemisfério Norte. Apesar de serem as mesmas cepas do ano passado, a vacinação contra a gripe deve ser anual.
COMO SE PEGA
Transmitido por gotículas emitidas por tosse ou espirro, o vírus da gripe pode alcançar até 5 metros, a 160km/h.
Os sintomas se manifestam de 24 horas a 48 horas após a infecção. Mesmo sem saber que está
doente essa pessoa já está espalhando o vírus.
Um adulto transmite o vírus por sete dias; uma criança, por dez e um paciente imunossuprimido (com sistema imunológico prejudicado) por até 30 dias.