Rio de Janeiro – O público foi chegando aos poucos. Primeiro a fauna tradicional de papagaios de pirata da Cinelândia, que corria atrás de qualquer artista ou político em busca de seus efêmeros minutos de fama. “Cheguei aqui às 5h”, dizia o Tiririca Cover a um engravatado anônimo, especialista em ser “sombra” de gente famosa. Em seguida, por volta do meio-dia, fãs, turistas e jornalistas se aglomeravam diante do Theatro Municipal do Rio, todos em busca de notícias sobre as celebridades que lotavam a missa, ontem, em honra de Chico Anysio, que morreu na sexta-feira, aos 80 anos, vítima de complicações de uma infecção pulmonar.
Questionado pelo Estado de Minas sobre qual lembrança guardava de Chico, Boninho, diretor da TV Globo, fez questão de ressaltar os momentos em que o humorista aparecia no Fantástico, “de cara limpa”, pois Chico era, ele mesmo, o seu maior personagem. Bastante abalada, a atriz Nathalia Timberg passou rapidamente entre os jornalistas sem dizer qualquer palavra. O casseta Marcelo Madureira também rendeu homenagem ao mestre: “Ele se foi, quebraram a forma. Chico, o grande contador de histórias, é único”.
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PADRINHO Leandro Hassum se lembrou dos telefonemas do velho mestre. “Era o meu padrinho, sempre me ligava para saber o que andava fazendo, até sobre a minha vida particular.” Tom Cavalcanti ressaltou o lado caridoso do amigo, ao lembrar as pessoas que Chico ajudava no Nordeste. “Convivi com ele durante cinco anos. Além de um mestre, Chico era um franciscano, sustentava famílias de artistas no Ceará e em Pernambuco.” Glória Pires enfatizou seu poder criativo: “O trabalho de Chico fala por si só. Agora, teremos de usar o YouTube para vê-lo e matar as saudades”, referindo-se ao compartilhamento de vídeos na rede social.
A atriz Marília Pêra destacou que a morte de Chico representa uma perda para a arte do país. “Era um amigo de todas as horas. Era um Chaplin brasileiro. Sempre ajudou os amigos que precisavam de socorro”, declarou. Visivelmente abalada, Tássia Camargo, que atuou como Marina da Glória na Escolinha do Professor Raimundo e ficou conhecida pelo bordão “chamou, chamou?”, não continha a emoção: “Estou me sentindo amputada. Era um homem muito generoso. Ele não vai morrer nunca”, disse. Juca Chaves destacou a originalidade do humorista: “Ele faz parte de uma geração do humor que está acabando. Chico era o cara do bom humor”.
Às 13h25, os portões da entrada principal do Theatro Municipal foram abertas para o público. A fila com mais de um quilômetro se formou rapidamente. Gente como Mirlene Tertuliano da Silva, 45 anos, que estampava um cartaz com o dizer "vai com Deus, mestre". Ela, ajudante na produção de embalagens para comida de avião, deixou de ir trabalhar e saiu logo cedo do Bairro Guarabu, na Ilha do Governador. "Vim de van para saudar meu ídolo."